A famosa obra “Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci, é de 1490, mas tem talvez muito ainda para nos dizer nos dias de hoje, talvez mais hoje do que em qualquer época! Ela foi baseada em uma obra ainda mais antiga de Vitrúvio sobre a arquitetura, apontando proporções perfeitas, divinas. O homem de Da Vinci, assim, seria o homem com o corpo perfeito, pois todo ele é feito a partir de proporções baseadas no número “phi”.
O Homem Vitruviano seria o novo e o de mais sucesso, blogueiro fitness do nosso século. Ele seria a celebridade número um da mídia e da indústria estética e seria convidado para propagandas de novos produtos “sem glúten”, ou para a abertura de uma nova academia nas capitais. Teria milhões de seguidores por dia, querendo saber o que ele come, o que não bebe, como malha, como vive. Dessas pessoas, muitas, ou melhor, nesse caso hipotético em questão, nenhuma delas nunca chegaria a ter o seu corpo perfeito.
Muitas iam falar que não eram esforçadas o bastante, que não tinham o famoso jargão em prática: “Força, foco, fé”. Umas ficariam deprimidas; outras pensariam em tomar remédios que se dizem milagrosos; outros, estimulantes, por menos saudáveis que sejam; outras passariam por cirurgias. Para o escritor Lucien Sfez, no livr “A saúde perfeita – Crítica de uma nova utopia” (livro que recomendo) já não fazemos mais exercícios somente pela saúde, mas muito mais no anseio do corpo perfeito. Nós chegamos até a forçar nosso corpo para além dos seus limites, nessa busca, o que chega a ser irônico, pois colocamos em risco a nossa própria saúde, mesmo nos considerando fitness, para ter o corpo com que sonhamos.
Acredito que o homem de Da Vinci é perfeito, exatamente porque não é humano. É um “homem” calculado em determinadas proporções para ter precisamente cada centímetro do seu corpo, é exatamente e extremamente uma obra de arte. Nós não o somos. Somos humanos, com corpos de medidas bem diferentes; uns mais magros, mais gordos, mais altos, mais baixos e até com um pé um pouco maior que o outro. O problema foi quando algum ou alguns decidiram brincar de Da Vinci e criaram “o homem humano” que seria considerado “bonito” para nós, perfeito, e nós nos sentimos mais feios, mais imperfeitos, por não ter essas determinadas medidas. A saúde é tão importante, e ela tem sido levada muito a sério neste século, principalmente pelas novas gerações. Vivemos mais, temos menos doenças e, o mais importante, vivemos melhor, com mais qualidade. O problema é quando vamos pra academia ou pra sala de cirurgia plástica pensando no que queremos ser, pois não somos felizes com o nosso corpo, porque ele é imperfeito. Nossos corpos são imperfeitos... Todos nós.
(*) Estudante de Jornalismo da PUC-SP
