ARTICULISTAS

Crônica difícil

Nem sempre é fácil escrever uma crônica por semana. Por vários motivos. Primeiro, porque nem sempre...

Padre Prata
Publicado em 22/01/2017 às 12:02Atualizado em 16/12/2022 às 15:35
Compartilhar

Nem sempre é fácil escrever uma crônica por semana. Por vários motivos.  Primeiro, porque nem sempre acontece o que o americano chama de “hit” (uma ideia original). Segundo, porque já está se tornando cansativo escrever sobre os mesmos assuntos, sobre a decadência da educação, corrupção política, falta de segurança, desorganização da família, sobre a irresponsabilidade da juventude, drogas, e assim por diante. Já estamos todos “cheios” de ler e escrever sobre isso.

Acontece que, por sorte, vi no meu pequeno jardim, um gato negaceando uma pombinha despreocupada, toda ela concentrada em catar gravetos para montar seu ninho, por sinal, sempre mal feito. Atrás dela, um gato usando de toda a malandragem felina para se aproximar e pegá-la. Colado na grama, rastejava alguns centímetros e se imobilizava. Parecia uma escultura negra no verde da relva. Já estava a um metro para o ataque. Foi então que acabei com aquela intenção diabólica. A pombinha voou assustada e o gato, já em cima do muro, me olhava com todo o ódio do mundo.

Pensei logo numa crônica sobre gatos. Por azar, no dia seguinte me aparece, no jornal, uma apologia sobre os gatos. Por sinal, muito bem escrita. Acabou com minha festa. Mas quero deixar bem claro que não me atrai muito a criação de um gato, mesmo sendo ele um persa, siamês, balinês, bengali, angorá ou de Madagascar. O autor da crônica fez uma poesia, falou dos defeitos dos gatos, mas falou com amor. O certo é que estragou minha festa. E agora? Escrever o quê? Só me resta espinafrar com os gatos, macios e sedosos felinos, parentes de tigres, onças, leopardos, leões e outros bichos traiçoeiros e cruéis.

Há muitos anos, vi um filme brasileiro, por sinal muito bom, que mostrava as aventuras e desventuras de uma jovem do interior que partira para o Rio para tentar a vida. Durante o filme, por umas dez vezes aparecia um gato, andando pelos becos e ruelas imundas. Eu pensava: qual o motivo para a presença daquele gato? Afinal, descobri: o gato é o símbolo da crueldade, da solidão, do egoísmo, vive sozinho, não acompanha ninguém, não ajuda ninguém, o dono que se dane. (Você já tentou “encarregar” um gato para tomar conta de sua casa?). Ele só se preocupa consigo mesmo. Só ama a si mesmo. Você já viu dois gatos andando juntos? Se ele se esfrega em você não é porque o ama, é porque está tirando algum “gozo” daquilo.

Minha vó Sinhá dizia: “Deus fez o cão. O capeta, com inveja, fez o gato”. Parece que a velha tinha razão. Sei lá. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por