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Sistema prisional: a culpa é dos advogados?!

Caro amigo leitor, estou no estaleiro, impossibilitado de conversar, tendo em vista um procedimento...

Leuces Teixeira
Publicado em 19/01/2017 às 18:25Atualizado em 16/12/2022 às 02:35
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Caro amigo leitor, estou no estaleiro, impossibilitado de conversar, tendo em vista um procedimento cirúrgico, mas não impossibilitado de poder pensar e escrever. Não sei se vou conseguir cumprir esse período de silêncio vocal ante as perplexidades – para não mencionar sandice e molecagem – que tenho lido, assistido e ouvido na mídia em geral. Há especialistas e entendidos de todo tipo, uma beleza e fartura de argumentos para explicar o que não sabem nem entendem.

Desde criancinha pequena, lá na minha terra, quando surgia um malfeito, uma traquinagem, travessura – dê o nome que entender –, tinha que se descobrir quem era o autor, ou os autores, de um jeito ou de outro. Daí, meu saudoso pai, com sua pedagogia da vara de marmelo, pegava o primeiro que via, pela crista, e já ia interrogando e dizendo que já sabia disso, daquilo, que outro irmão tinha contado. Em segundos, a casa caia. Ele descobria até o que não queria. Lembrando um velho ditad atirava num pardal e acertava um elefante. É verdade, assim é que acontecia!

Pois bem, neste momento, estão querendo debitar a conta no exercício legal e constitucional da advocacia, atropelando garantias duramente conquistadas, ampla defesa, direito do acusado de entrevistar com o profissional, dentre outras. Tenho medo ante a total incompetência do Estado em gerir coisas importantes, como também querer jogar para a plateia ensandecida de ausência de segurança, diante dos espetáculos fotográficos mostrados nas redes sociais, quebrar a ordem legal vigente.

É de uma irracionalidade jamais vista. Assuma os erros praticados ao longo dos anos, a corrupção reinante dentro dessas masmorras, ausência de assistência jurídica, muita gente ganhando dinheiro com esse total desgoverno. Veja o caso de Manaus, onde uma autoridade do sistema chega a conversar com o chefão da facção, no sentido de amolecer, fazer vista grossa, em troca de benefício eleitoral. Isso é uma vergonha desmedida.

Nesse jogo travado – governo e facções –, benefícios espúrios estão em jogo e a vida de pessoas inocentes, que sequer nunca foram presas, menos ainda; processados, sem a culpa formada, sendo esmagados a qualquer custo, e grande parte da sociedade aplaudindo, inclusive incitando mais matança, nas redes sociais.

Vamos imaginar, em tese, repito em tese: você, justiceiro, homem probo, acima do bem e do mal, fazendo chacota com a desgraça coletiva, caso tenha um filho, irmão, pai, sobrinho, enfim, uma pessoa do seu convívio que venha a ser presa injustamente, por engano, ou até mesmo pelo cometimento de um delito, gostaria de ver seu ente querido ser decapitado? Executado sumariamente, nada tendo com essas facções? Gostaria de passar por esse calvário? Cuidado! Muito cuidado, homem de “bem”, não feito e afeto a qualquer barbeiragem no caminhar da vida. Quem está imune, com esse aparato horrível de investigação, de ser processado, preso, confundido erroneamente numa situação? Observe os erros judiciários. Reflita. Participei de um júri aqui, em Uberaba, em que havia sete acusados de um homicídio. Pois bem, ao final, todos foram absolvidos e o Ministério Público sequer recorreu da decisão. Tenho vários casos para relatar de inocentes presos, inclusive, recentíssimo; aqui, na nossa urbe, no ano passado, uma jovem de 20 anos ficou presa, erroneamente, por mais de cinco meses. Gostaria que fosse sua filha? A culpa é da advocacia? Nós, advogados, criminalistas, somos os culpados? Volto ao tema, preciso de mais espaço. Urge discutir o problema exaustivamente. A matança vai pular as muralhas dos presídios. Tenho dito!

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