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Celular

Os usuários de celular têm o poder de se comunicarem, com áudio e vídeo, quer estejam numa mesma cidade...

Mário Salvador
Publicado em 17/01/2017 às 20:14Atualizado em 16/12/2022 às 02:36
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Os usuários de celular têm o poder de se comunicarem, com áudio e vídeo, quer estejam numa mesma cidade, quer estejam separados por oceanos. Apesar disso, o celular pode, também, isolar pessoas próximas. Numa roda de amigos com celulares, pode acontecer de eles não conversarem e ficarem apenas teclando, em busca de notícias, de novidades, de Pokémon...

Embora conheçamos as três partes do corpo humano (cabeça, tronco e membros), em resposta à pergunta “quais as partes do corpo humano?”, diria o alfaiate: “Calça, colete e paletó.” O pessimista: “Depende do desastre.” E toda a humanidade, na era da tecnologia: “Cabeça, tronco, membros e... celular.”

Não sou contra o celular. Aliás, pelo contrário, ligações feitas por celular, quando só ele estava à disposição, já ajudaram a salvar minha vida depois de um infarto. A ideia que incomoda é a de que hoje o celular parece integrar o corpo humano. E, raras exceções, já não se vive sem ele. Vive-se sem cabelos (sou prova disso), sem emprego ou crédito, mas não sem celular. E nos iludimos pensando que o dominamos. Somos escravos dele; ele nos domina.

Admiramos esse aparelhinho, que foi aperfeiçoado em tão pouco tempo e que proporciona consideráveis benefícios à humanidade. Ele disponibiliza, a qualquer hora, as últimas notícias, e mil recursos que nos norteiam por ruas e rodovias; permite-nos agilizar o dia, estudar, fazer registros, compras, transações financeiras... Sabiamente, com os aplicativos, os bancos deram um jeitinho de não ter mais seus clientes em suas agências, facilitando para os dois lados, afinal, também nosso deslocamento, tempo e paciência foram poupados.

Estudos apontam riscos do celular, como emissão de radiação, embora nada seja definitivo. E, no trânsito, o uso do celular, que desconcentra motoristas enquanto dirigem, concorre com o álcool, como causa de desastres. Pedestres no uso de celular também se distraem. E se o cuidado com a selfie é maior do que a atenção ao entorno, desastres também podem acontecer.

Rodas de amigos, com boa prosa (aquelas que, ao se dissolverem, deixavam um vazio na gente, mesmo com os integrantes já combinando o próximo encontro) estão em extinção, pois hoje a regra é cada qual com seu celular (grudado à mão e/ou ao ouvido), teclando, telefonando, ou às voltas com mensagens, fotos, aplicativos, sem troca de palavras ou olhares com os circunstantes. (Descontinho para quem se comunica na roda, mas pelo celular.)

Outro aspecto a considerar é que nem todos absorveram as regras de etiqueta quanto ao uso do celular, mesmo com tantos anos de convivência com o aparelhinho. Se um celular chama quando estamos conversando com alguém, vale agir com ponderação. Usuários éticos do celular nunca deixam de dar atenção às pessoas à sua volta. E em eventos em auditórios, até hoje se ouvem toques de celulares. Quem atende acha que está sendo discreto, dobrando-se na cadeira, enquanto o auditório espera o término da ligação. Constrangimento desnecessário. Então entendemos por que ainda é preciso, antes de eventos, recomendar ao auditório que desligue o celular.

O planeta já tem mais celular que gente. É preciso não apenas saber usar esse aparelho, mas, sobretudo, “é preciso saber viver”. Também é bom lembrar que mais vale uma boa conversa ao vivo com a família e com os amigos. Já enfrentamos aprendizados mais intrincados. Acreditamos, então, que vamos vencer mais este: o de usarmos o celular com propriedade.

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