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Discussão inútil

Numa das edições de um jornal de São Paulo, três escritores se envolveram em discordância...

Padre Prata
Publicado em 15/01/2017 às 12:44Atualizado em 16/12/2022 às 15:43
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Numa das edições de um jornal de São Paulo, três escritores se envolveram em discordância sobre a existência de Deus. Apresentaram suas divergências com classe, tranquilidade e educação. Com apenas uma exceção, não houve grosserias.

Acho inútil esse tipo de diálogo “se Deus existe ou não”. Muitos caem na ignorância quando não no besteirol. Esses descompassos me fazem lembrar de uma citação do filósofo Emmanuel Kant. Dizia que “tentar explicar Deus está acima da razão humana”. Em outras palavras, tentar provar a existência de Deus ou negar é pura perda de tempo. “Quem é Deus?” Não sei. Percebo seus sinais, suas marcas. Creio em sua existência. Considero-o meu criador e pai. Dirijo a Ele minhas orações, mas “como é Ele?” Não sei. Ninguém sabe. Somente sei que “crer” nele é uma adesão, “não crer nele” é uma não adesão. Crer ou não crer nele é uma decisão pessoal que deve ser respeitada, como devem ser respeitadas as adesões de minha vida. Cada um de nós tem seus pontos de vista que devem ser respeitados. Não tenho nada a ver com as escolhas dos outros. Discutir sobre religião é pura perda de tempo. Pior ainda é criticar a religião dos outros. Isso me faz lembrar do Padre Jardim. Era meu professor em Belo Horizonte, no Curso de Filosofia. Com ferina zombaria, contava-nos que os teólogos de Bizâncio, na Idade Média, como não tinham o que fazer, passavam o tempo discutindo ninharias, inclusive se Adão tinha ou não tinha umbigo, já que ele não tinha mãe. O mesmo se pode dizer dessas cansativas discussões sobre se Deus existe ou não. Giram ao redor do umbigo.

Somos todos caminhantes, muitas vezes na certeza, vezes outras na incerteza, na dúvida, sempre à procura. Posso falar sobre Deus, mas não posso compreendê-lo. Diz o astrônomo Marcelo Gleiser (leciona em uma Universidade nos Estados Unidos) que há três coisas que a Ciência jamais explicará: a origem do Universo, a transformação da energia em vida e o funcionamento da mente humana, Ora, se não entendo os “mistérios” da Natureza, como explicar as coisas que estão em nível de Deus? É pura perda de tempo discutir se Deus existe ou não. Por que não tentar viver em paz? Tenho amigos ateus aos quais admiro por sua lealdade, por sua honradez, pelo sua atenção com os mais necessitados. (Às vezes fico pensando que eles creem em Deus sem saber...).

Numa procura de Deus é preciso que se tenha consciência de que não vou ao seu encontro. Ele é que vem ao meu encontro e vem na medida em que crio condições. Por isso é que qualquer tentativa de provar a existência de Deus é um malogro. Deus é algo a receber. Não é um teorema a ser demonstrado. E nós O recebemos na medida em que preparamos caminhos, na medida em que somos “sal” e “luz” para os outros.

Como já afirmei, tenho vários amigos que são ateus, mas não se gloriam disso como se crer fosse fraqueza de espírito. Crer ou não crer é direito de cada um de nós. Nada tenho a ver com o estilo de vida de ninguém. Acreditar não é sinal de superioridade. Também os ateus são filhos de Deus e são amados por Ele.

O importante, o essencial é descobrir um sentido para minha vida, é meu encontro com o Bem. Se realmente nos comprometemos, a vida para nós adquire sentido. Mas, não é nada fácil. Exige despojamento.

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