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Vaidades

Que Deus nos poupe do excesso de vaidade. Algo de vaidade ainda passa, mas como estimulante...

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 14/01/2017 às 20:08Atualizado em 16/12/2022 às 15:44
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Que Deus nos poupe do excesso de vaidade. Algo de vaidade ainda passa, mas como estimulante de realizações positivas. No entanto, subordinação à rasa vaidade sugere que se implore por socorro. Afinal, a vaidade inebria, até cega, não tem escrúpulos ou razão, simula, ousa, arma para se alimentar, mesmo que crie um reconhecimento inverídico, artificial. Que os céus nos livrem da vontade de virar retrato na parede, como símbolo de grandeza, ou de ser monumento à glória pessoal por triunfos subjetivos, estes que são passageiros. A estátua de hoje em breve será esquecida como mero poleiro dos pombos. Realçar vitórias há de ser de causas, não de pessoas. Afinal, nada sobrevive estático no mundo de bilhões de anos. Lucy foi encontrada, sabe-se lá quem foi. Um fóssil. As pirâmides se vão dia a dia com a calma vontade da natureza, que as fazem minguar no tempo. E os faraós que quiseram ser sagrados e eternos, na verdade estão divorciados de seus cadáveres secos expostos, sem a santa paz de voltar ao pó mais naturalmente, embora um dia, mais cedo ou mais tarde, num giro perene de milhões ou bilhões de anos, voltarão a ser pó, pois é da sagrada lei do infinito. Infeliz daquele se se apoia apenas nos seus contornos estéticos. Essa beleza logo se esvai. Deus, a quem rogamos, na sua grandeza, nem forma quis ter, não é retratado, não é esfinge escultural, nada material há como contorno de seu ser. Placa na parede, nome de obra, busto, ou tantos outros elementos das vaidades; supliquemos para que quem receba tais homenagens possa entender que se trata de mero triunfo humano passageiro. Que não se inebrie por dentro com essa glória ocasional, que não perca o sentido do fugaz. Não se trata de negar a história, sabidamente "a mestra da vida", mas de menosprezar a oca  vaidade. Vaidade sim, mas a do bem, a pura, invisível, a da construção da humanidade, não de singular pessoa, imperador, rei, ou guerreiro forte, matador. Salve-se a silenciosa vaidade de se fazer o bem, a do Amor, simplesmente.

(*) juiz de Direito

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