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Não devo, não pago

Aumenta a expectativa de vida dos brasileiros e o que, consequentemente, faz suscitar no Planalto...

Gustavo Hoffay
Publicado em 10/01/2017 às 18:43Atualizado em 16/12/2022 às 15:48
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Aumenta a expectativa de vida dos brasileiros e o que, consequentemente, faz suscitar no Planalto Central a ideia de que poderemos ser tão ou até mais produtivos e reconhecidos como tal até atingirmos os sessenta e cinco anos de idade! Assim e segundo os jovens tecnocratas e abastados assessores palacianos, ao completarmos sessenta e quatro invernos e se desempregados, teoricamente ainda estaríamos plenamente aptos a concorrer com pessoas bem mais jovens a algum cargo que não exija tanta experiência, mas um pleno desenvolvimento da nossa capacidade motora e mental. Francamente... Pouco tempo decorreu desde que tive acesso a uma pesquisa realizada por um sociólogo italiano de nome Burgalassi e que, ali, evidenciava o fato de que dentre as pessoas com mais de sessenta anos de idade apenas 25% gozam de boa saúde, 50% sofrem restrições e 25% estão cronicamente incapacitadas de trabalhar. Daí, pergunt onde conseguirá empregar-se um ancião com mais de sessenta anos de idade, enquanto aguarda completar sessenta e cinco para ter direito à sua aguardada aposentadoria? Quem irá empregá-lo se já não cabem no Brasil empresas dotadas unicamente de boa vontade e diante de um mercado cada vez mais exigente e competitivo? Até onde será possível às empresas atenderem as consequências de ter funcionários naquela faixa etária e deles exigirem uma produtividade que seja compatível às regras comuns de produção? Certo é que a civilização industrial contemporânea vem descaracterizando e explorando ainda mais a velhice humana, marginalizando os anciãos a ponto de empregá-los de maneira pouco convencional, sequer honrando um passado de grandes lutas travadas e de conquistas diversas, muitas vezes heróis anônimos!  Se o governo federal imagina todos os trabalhadores com sessenta e quatro anos de idade com os mesmos predicados de um jovem e torna todos os nossos incômodos físicos e mentais como algo supérfluo e inútil aos olhos dos empresários, então, que aplique logo aquelas medidas contra quem já fez o que pôde por esse Brasil e teve a honra de fazê-lo, ao contrário do que muitos congressistas imaginam fazer em apenas quatro anos de mandato e enquanto mamando nas tetas de todo um governo absolutamente acéfalo. O sr. Temer e a sua equipe não devem agir como os antigos gregos, que sabiam admirar a virtude, mas não sabiam praticá-la. Fomos todos nós, os mais velhos, os grandes construtores do presente e penso que, também por isso, qualquer modificação na já injusta seguridade social brasileira seria, antes de tudo, uma oficial ratificação do total desrespeito governamental a cada um de nós, coroas! Querer que entendamos e sejamos solidários com uma crise que não foi criada por nós é pedir muito e é prova inconteste de uma incompetência estrambótica de quem se diz “otoridade”.

(*) Agente Social

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