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Velho, eu?

Às vésperas de começar a desfrutar de alguns poucos benefícios relativos à aposentadoria...

Gustavo Hoffay
Publicado em 24/12/2016 às 23:57Atualizado em 16/12/2022 às 16:03
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Às vésperas de começar a desfrutar de alguns poucos benefícios relativos à aposentadoria, passo a observar com mais acuidade a atenção de um considerável número de jovens em relação aos idosos; sim, idosos, velhos, gagás, caducos e não aquelas frases que tentam transmitir mensagens positivas, mas absolutamente hipócritas e do tipo “melhor idade” ou “terceira idade”. Velho, sim! Algumas pessoas ainda arriscam-se a chamar-nos por “usados” e a quem retruco chamando-os por “abusados”. Brincadeiras à parte, é chegado o momento de eu começar a sentir os efeitos de uma natural debilitação do organismo e da mente e, mesmo sem querer, ralhar diante de algum comportamento juvenil que eu julgue reprovável e como querendo, inutilmente, é claro, fazer valer a minha opinião sobre modernas e variadas formas de conduta de quem ainda possui o vigor da juventude. O encanto por muito daquilo que antes exercia sobre mim uma grande atração vai declinando e dando lugar a outros sentimentos também agradáveis e como é o caso da saudade ou mesmo o reencontro com atividades laborais e para as quais eu, erroneamente, julgava estar ficando inabilitado. O incremento em relação a uma espiritualidade maior já ocorre de maneira natural e mais constante, mas, por outro lado, o convívio com os filhos mais velhos torna-se cada vez menos assíduo; sim, afinal eles têm suas próprias obrigações diárias em faculdades, no exercício profissional ou na dedicação à vida conjugal. Guardo, então, a certeza de que tornarão a visitar-me em breve ou ao menos irão telefonar-me; quem sabe, talvez, um e-mail ou uma mensagem no “WhatsApp”... É claro que eu mesmo sinto, vez e outra, iludindo-me nesse sentido, mas.... e daí? Outra constatação para quem segue cada vez mais adiante em sua vida está, sim, relacionada à visão ou ao conhecimento da perda de familiares e amigos que partem para o “andar de cima” e o que, particularmente, sinto como se Deus estivesse esquecendo-se de mim ou oferecendo-me novas oportunidades de reparação pelos inúmeros erros que cometi nesta vida. Recordações do passado, quem não as tem? Faço isso diariamente e a cada vez com maior riqueza de detalhes considerando, principalmente, as boas oportunidades perdidas, amarguras, decepções que fizeram-me dar a volta por cima e recomeçar a cada novo dia a construção de um novo Gustav maduro, calculadamente ousado embora previdente na maioria das vezes, feliz à minha maneira de ser e por – humildemente – auxiliar a jovens interessados em aprestarem-se a serviços sociais e que requeiram a sua vitalidade, a sua alegria, a sua inteligência! A tão famigerada avareza que dizem ser comum aos mais velhos não a pratico e em vista de querer desfrutar o máximo possível do mínimo que tenho; não invejo quem transborda de saúde ou de algum vizinho que reformou toda a sua casa e mantêm um carro “zero” na garagem; não digo que perdi a fé por imaginar que Deus abandonou-me em algum momento que eu mais precisava da sua assistência, pelo contrári voltei-me ainda mais em direção a Ele, embora eu ainda seja tentado a uma melancolia sem esperança, principalmente ao assistir a tantos políticos que ainda comportam-se de maneira mesquinha em suas atitudes parlamentares. A muitos eu digo que a chegada da “velhice” faz transbordar em cada um de nós valores que antes desprestigiávamos e que agora fazemos questão de cultivar, principalmente levando-se em conta a responsabilidade dos exemplos e referências que devemos deixar como legado para os nossos filhos e netos. Bem-vinda, velhice; cultuei-a desde criança, por que agora desprezar-te?

(*) Gustavo Hoffay

Agente social

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