ARTICULISTAS

Tudo que você precisa fazer para ser um viciado em redes sociais

Sem nada pra fazer no meu tempo livre, decidi entrar nas redes sociais. Estava olhando...

Julia Castello Goulart
Publicado em 13/12/2016 às 20:25Atualizado em 16/12/2022 às 16:12
Compartilhar

Sem nada pra fazer no meu tempo livre, decidi entrar nas redes sociais. Estava olhando as publicações de amigos eletrônicos, muitos eu nem mesmo conhecia na vida real. A maior parte das postagens era compartilhamentos de sites de notícias sobre os desastres da semana. Em cada um deles, o dono do compartilhamento dava sua opinião sobre a notícia. Desde política a astrologia, ele tinha opinião pra tudo. Ai se alguém decidisse comentar em seu post que não concordava com ele! Torna-se uma briga virtual de xingamentos, insultos, na qual ambos diziam estar apenas usufruindo da sua própria liberdade de expressão! As pessoas não querem opinar de acordo com seus pontos de vistas diferentes. Eles querem que todos concordem com a opinião delas e se não concordam, são "esquerdistas, vai pra Cuba" ou "direitistas, amam o Trump".

Há um minuto o dono do compartilhamento mal sabia quem era "José", mas ele logo deu uma “googlada” e já tinha sido suficiente para compor sua opinião e espalhá-la nas redes sociais. Afinal, ela é livre, não é? Cada curtida significa que cada um de seus respectivos donos leram o post compartilhado? Errado! Uns leem apenas a manchete, porque se param para ler mais de três linhas, perdem tempo para curtir outros posts. As curtidas se tornam mecânicas, que paro de ler a matéria (não tenho tempo para ler tudo que aparece na minha timeline!). Na verdade, passo a nem ler mais as manchetes, já que elas se tornaram depois de um tempo praticamente iguais, e agora estou curtindo postagens dependendo da pessoa.

Tragédias, como diziam muitos, não movem o mundo, mas sim as boas ações que partem de querer que elas não se repitam. Shakespeare já escrevia tragédias, porque talvez já possuísse um “feeling” que essa era a categoria que as pessoas mais gostavam de ler. Mesmo sendo uma “hipótese”, talvez isso explique o porquê dos grandes meios de comunicação vender notícias sobre tragédias de uma forma tão lucrativa. Eles vendem muito, pois possuem muitos compradores. Vê-se 20 notícias do mesmo desastre aéreo, natural, de corrupção, de formas diferentes para ser comprado pelos diversos públicos: 20 fatos sobre "José". Exclusiv o que "José" disse antes de morrer, faça o teste para ver qual tipo de "José" você é.

De repente, após muitas curtidas, como um passe de mágica, passei a ver só postagens que me agradavam. O problema que comecei a ficar incomodada de ler sempre as mesmas opiniões. Tentei me esforçar para ler opiniões contrárias as minhas. Mas talvez de tanto ler que "José" é isso, eu tenha certeza que ele é realmente isso e acho um absurdo que meu amigo fale que ele não é isso. Faço o quê? Dou “unfollow” nele. Passo a desfazer amizades com todos que não têm a mesma opinião que a minha.

Travei meu celular e fui ver uma nova série que me sugeriram: Black Mirror. Já no primeiro episódio, me identifiquei totalmente com as críticas que ele queria passar: somos indivíduos que se dizem livres, que pensam possuir redes sociais e a tecnologia como meio de exercer essa total liberdade. Porém, somos na verdade controlados, alienados, viciados. Estava irada, pensando o tempo que havia gastado da minha vida mexendo nas redes sociais... Mas logo esse meu pensamento foi interrompido por um som do celular. Era uma nova curtida em uma das minhas fotos que acabara de postar! Entrei para ver quem tinha curtido... Ler os comentários... Aceitar ou negar solicitações de amizade... Espera... O que eu estava criticando mesmo?

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por