A novela de Renan

Novelas da vida real costumam ser mais surpreendentes que as da televisão. Isto mesm a vida de algumas pessoas daria uma novela. É o caso do senador Renan Calheiros, ator de primeira. Quando já o julgávamos nocauteado, ele se levanta e se põe a dançar no ringue.

Num dos últimos capítulos da novela, o ministro Marco Aurélio Mello sentenciou que Renan – o Imbatível – deveria ser afastado do cargo de presidente do Senado. No capítulo seguinte, um oficial de Justiça tentou notificar Renan da sentença. Há, nesse ponto, uma boa controvérsia. Renan recebeu o oficial, mas não achou conveniente ser intimado em casa; solicitou que o oficial o fizesse no Senado, na manhã seguinte. Em outra versão, embora o Mensageiro da Lei tenha visto o senador por uma vidraça, disseram que o homem não estava em casa. Coisa de novela. No dia seguinte, Renan, no Senado, recusou-se a receber o oficial, e nenhum membro da mesa quis assinar a intimação. Em referência à atitude de Renan, Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, declarou: “Dar as costas a um oficial de Justiça é dar as costas ao Judiciário”.

Em seguida, Jorge Viana, vice-presidente do Senado, costurou honrosa saída para o impasse, tendo em vista os interesses da nação (Fica valendo a cacofonia “danação”.): ficou acertado que, para o bem de todos (principalmente o de Renan), o senador permanecerá presidente do Senado, porém, como castigo maior, não integrará a linha sucessória da Presidência da República, o que, noutras circunstâncias, seria prerrogativa do presidente do Senado.

E, em capítulo especialmente irônico desta novela, Renan enalteceu as qualidades morais de Jorge Viana, pela atuação no episódio de cassação do seu cargo de presidente. E, conforme foi ensaiado, ainda haverá o capítulo em que Renan se esquecerá de colocar em votação o projeto de lei de sua autoria que define abuso de autoridades (Juízes e Promotores) no exercício das funções.

Num trecho ainda inédito da novela, Renan, citado pelo Supremo, responderá aos mais de dez processos contra ele que estão parados no Tribunal de Justiça. Será novidade se a Justiça, aquela com venda nos olhos, conseguir, um dia, punir esse homem imbatível e, pelas condutas reprováveis, colocá-lo na prisão (fazendo companhia a Cunha) e ele optar por delação premiada.

Nesta novela a que os brasileiros assistem extasiados, a maior audiência será registrada quando Renan – o Imbatível – for alcançado pelos curtos braços da Lei. Mas fica registrado que tudo isso só pode ser obra de ficção, pois, na vida real, qualquer cidadão que tentar ludibriar um oficial de Justiça vai se dar muito mal. Definitivamente, só Renan teve o direito de fazer isso, já que a vida dele é uma novela.