Foi o que me pareceu. Brincadeira de criança zangada que, ao perder o jogo de futebol, recolhe a bola, coloca debaixo do braço e vai embora para casa. Essa foi a reação dos senhores deputados que, ao se verem acuados com a extensão e firmeza da operação Lava-Jato, decidiram retaliar e enfraquecer as 10 medidas contra a corrupção gestadas por procuradores e avalizadas por 2,4 milhões de assinaturas. Inverteram a ordem das coisas e decidiram punir juízes e promotores, criminalizando-os por qualquer abuso de autoridade aos olhos dos investigados. Sou favorável à apuração e punição do abuso de autoridade sem exceção de classes, mas não essa medida aprovada de forma açodada e escondida, com o único intuito de intimidar aqueles que se dispõem a desbaratar quadrilhas que saqueiam o povo brasileiro. Estamos vivenciando uma verdadeira guerra entre os Poderes da nação.
Políticos geralmente se comportam como os mais privilegiados cidadãos do país. E não é para menos. Desfrutam de mordomias, alheios à situação econômica e à conjuntura nacional, como se o serviço prestado por eles fosse o mais essencial de todos. Para exercer o mandato, necessitam ser tratados como reis. Que contraste com o povo que representam! Em uma cidade do interior de São Paulo, os médicos estão há sete meses sem receber e foram obrigados a voltar a trabalhar por uma medida judicial que julgou essencial sua atividade, como é de ser. Os parlamentares, com seus recessos diferenciados e semana mais curta que a dos simples mortais, além de salários sempre em dia, pautam assuntos de interesse da nação pelo grau de atendimento às suas reivindicações, pela pressão popular e por picuinhas ideológicas e eleitoreiras que fazem mofar na gaveta importantes projetos pelo bem-comum.
O povo quer moralização. Disse um ministro do STF que esse povo não sabia o que estava assinando ao mandar para o Congresso 10 medidas contra a corrupção propostas por quem entende do assunto. Pode não saber a fundo, mesmo. Mas anseia por resultados. Sonha com um país limpo, ético, ordeiro e justo, e não aguenta mais esse clima belicoso de enfrentamento entre Legislativo e Judiciário, cada qual querendo ser o dono da bola. Só não descuidam dos seus privilégios, que são muitos de ambos os lados. Enquanto os Poderes não se entendem, descumprem ordens judiciais, e voltam atrás em suas decisões, nós, que bancamos tudo isso, continuamos assistindo incrédulos a mais um capítulo vergonhoso na história de um país chamado Brasil.
