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Homem X Natureza

Foi autorizada a derrubada de cem árvores do bosque da Eva Reis, próximo ao Museu...

Mário Salvador
Publicado em 06/12/2016 às 20:47Atualizado em 16/12/2022 às 16:18
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Foi autorizada a derrubada de cem árvores do bosque da Eva Reis, próximo ao Museu Doutor José Maria Reis. Em uma casa no centro daquela mata moravam Eva e suas poesias. Um luxo. Ali, todos os meses, Eva reunia os amigos para uma prosa sobre literatura e amenidades. Prazerosas reuniões das quais tive a sorte de participar.

Um delicioso café com biscoitos encerrava a primeira parte daquele encontro. Em seguida, todos fazíamos um longo passeio, contemplando as árvores. Todas elas, principalmente as mangueiras, foram plantadas sobretudo com carinho. E no tempo das mangas, tínhamos direito de levar para casa todas as que conseguíssemos pegar, desde que não jogássemos pedras para apanhá-las. Aliás, nem era preciso atirar pedras, pois, maduras, as mangas caíam ao longo do caminho com qualquer brisa que agitasse os galhos das mangueiras.

Depois que Eva foi para Belo Horizonte, não mais desfrutamos da boa sombra daquelas velhas árvores amigas, no dizer de Bilac, “vencedoras da idade e das procelas”. Agora as belas e antigas árvores estão com os dias contados. Cem delas irão ao solo em breve. As serras, em uma hora, se tanto, abrirão espaço para edifícios. O concreto, que substituirá as árvores, não tem a propriedade de amenizar a alta temperatura da cidade. O progresso prima por sacrifícios cruéis.

Para cada árvore derrubada existe a promessa do plantio de outras dez. Também para a construção de um shopping em Uberaba, um bosque seria derrubado, há poucos anos. A mobilização popular evitou o desastre ambiental. Com isso, o bosque está firme e o shopping, funcionando. Não sei se um clamor público conseguiria salvar as cem árvores da chácara da Eva.

Uberaba já teve grande número de árvores frutíferas, especialmente em quintais. A ferrenha luta do homem contra a natureza fez com que se fossem os quintais e suas árvores. Em pleno século XXI, talvez ainda não estejamos conscientes de que não é a natureza que precisa do homem; o homem é que precisa da natureza. Tomara que não acordemos tarde demais para assimilarmos essa verdade.

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