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Então

Por onde começar uma história sem começo, sem enredo, sem roteiro, sem nexo...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 06/12/2016 às 20:45Atualizado em 16/12/2022 às 16:18
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Por onde começar uma história sem começo, sem enredo, sem roteiro, sem nexo, sem explicação? Por quanto tempo acreditar na inevitabilidade da hora da partida, na inexorabilidade do destino e na implacável lógica divina? Onde se sente a presença do Criador? Nelson Rodrigues disse que Ele está nas coincidências. Passei a buscar explicação pela reflexão de Nelson e confesso não me sentir por satisfeito, talvez suspeito, para alcançar e encontrar nas coincidências a presença de Deus. Em que ordem de grandeza sentimental e emocional podemos sentir a intervenção divina, ou sua agradável companhia que nos faz sempre agradecer e reiterar a certeza de que Ele sabe o que faz e aceitar os desígnios reservados a todos nós aqui na Terra. Auschwitz e Treblinka não eram coincidências, eram obras de humanos que não se achavam coincidentes com outros semelhantes e em nome dessas não coincidências o Holocausto desafiou a presença de Deus e perpetrou-lhe um grande golpe. Assim como Hiroshima e Nagasaki, o genocídio armênio, e tantas outras atrocidades. Seriam esses acontecimentos coincidências? Não se pode admitir, a asseverar a máxima de Nelson. Deus não pode estar nessas coincidências, portanto, sua ausência o livra de cumplicidade. Para Dostoiévski, se Deus não existe tudo é permitido. Mas tudo parece mesmo ser permitido, eis uma coincidência. As coincidências são ao acaso e suas ocorrências são inesperadas, o que as aproxima muito da sensação de surpresa. O acaso é a negação de causa, e negação de causa é a própria contradição a Deus. Tudo faz sentido e tudo tem uma causa, um nexo, uma explicação. Nada é por acaso. Há que se afastar diametralmente o acaso da coincidência, são eventos distintos que se contrapõem a inquietude da fé ou da incredulidade. E paradoxalmente um evento é razão do outro. O acaso nem sempre se transforma em coincidência, mas a coincidência é obra de algum acaso. Sendo assim pode-se dizer que Deus é obra do acaso. Sofisma ou silogismo? Cada um reage a sua maneira e convicção, o importante é respeitar e admitir que todos têm direito de questionar e buscar explicações para suas inquietações. As informações trazidas a respeito de prática constante dos voos da Lamia viajarem no limite do combustível necessário, sem nenhuma reserva, não é uma coincidência, é uma reincidência. Não é nenhum acaso, é um descaso, onde tudo foi permitido. Daí deve se deduzir a ausência de Deus no voo da Chape.

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