ARTICULISTAS

Que país é… ou melhor, que geração é essa?

Não há tanto tempo assim, eu estava no Ensino Médio. Dessa vez eu havia voltado à escola...

Julia Castello Goulart
Publicado em 28/11/2016 às 07:43Atualizado em 16/12/2022 às 16:24
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Não há tanto tempo assim, eu estava no Ensino Médio. Dessa vez eu havia voltado à escola, no caso a IFSP, para um trabalho da faculdade de jornalismo. Entrei numa sala, diferente das outras, as paredes e a porta estavam tomadas por grafites com frases de apoio, de ordem, de piadas, nomes, amores. Estava conversando com alunos entre 15 e 17 anos sobre o recente aconteciment o movimento estudantil que levou à ocupação da escola pelos alunos. Não só nas escolas e universidades públicas de São Paulo, mas de muitas outras cidades do país.

A grande mídia dizia para mim e para outros milhões de brasileiros, que os alunos estavam causando um caos nas escolas, na organização e realização do Enem e até mostraram a morte de um estudante que participava de uma dessas ocupações em São Paulo. Entretanto nada se comentava sobre os motivos deles estarem ali, ou davam-lhes voz para defenderem seu movimento. E, para a minha surpresa, eles tinham muito o que dizer. O movimento surgiu exatamente naquela sala onde nós nos encontrávamos, no Grêmio. Eles fizeram várias reuniões para discutir a PEC 241 do teto de gastos públicos e a PEC 55 da reforma do Ensino Médio. Eles não concordavam com nenhuma daquelas Emendas e eles seriam os principais prejudicados: o governo ficaria sem investir em sua própria escola e com a reforma as matérias artes, educação física, filosofia e sociologia se tornariam não mais obrigatórias. Apesar disso, ninguém havia perguntado o que eles achavam. Ao contrário, mesmo depois que tentaram se manifestar, o governo fechou-lhes as portas, a mídia os ouvidos e nós, brasileiros, seguimos sem saber da missa a metade.

Por meio de uma votação que, quase não obteve oposições, decidiram ocupar a reitoria. Possuíam uma organização interna, tinham hora para acordar e dormir; uns cuidavam de preparar a comida, outros da parte da limpeza. Tiveram o apoio de muitos professores que se dispuseram a dar aulas, mesmo com as ocupações. No fim, decidiram desocupar, pois precisariam da escola para prestar o Enem e muitos ali o fariam.

Na crença de que os jovens não sabem de nada, que só possuem as opiniões e os pensamentos que têm porque ainda não viveram nada da vida, são apenas ingênuos e sonhadores... o presidente Michel Temer manifestou-se sobre os estudantes que estavam ocupando muitas escolas do país: "Eles não sabem nem o que é uma PEC”. Mas a incoerência é que o governo se nega a ouvi-los. O que temer governo Temer, se eles não sabem de nada e são apenas baderneiros?

Nós, jovens, somos o “futuro do país” como dizem, mas não nos dão ouvidos, não querem escutar nossas opiniões. Nem o governo, e muitas vezes nem os pais nos dão oportunidade de dizer o que pensamos. É verdade que como jovens, ainda temos muito a aprender e podemos mudar de opinião sobre muitas coisas, amanhã ou daqui a anos. Contudo, isso não deslegitima nossos movimentos. Somos chamados de a "geração do computador". Reclamam que só sabemos opinar e “odiar” tudo nas redes sociais, mas quando nos mobilizamos, fazemos baderna... Talvez estejamos muito mais perto de uma geração ativa, como a geração Coca-Cola de Renato Russo. Somos uma nova geração com muitas ideias e sonhos.

Ainda bem, porque se dependesse de muitos adultos de hoje, estaríamos pessimistas e conformistas demais com esse mundo. É... É verdade, nós queremos um mundo novo!

Julia Castello Goulart

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