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Outros tempos

Ao encontrar velhos colegas de trabalho, lembrei-me de um fato que aconteceu comigo...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 27/11/2016 às 15:13Atualizado em 16/12/2022 às 02:40
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Ao encontrar velhos colegas de trabalho, lembrei-me de um fato que aconteceu comigo logo que entrei para a Receita Federal, no distante ano de 1978. Poucos dias depois de empossada no cargo, à época denominado Fiscal de Tributos Federais, e ainda bastante assustada com as responsabilidades que viriam, fui chamada à sala do Chefe de Fiscalização para que, em companhia de uma colega, também recém-ingressa, formalizássemos uma apreensão de joias que se encontravam no cofre da agência do Banco do Brasil, no centro, e as levássemos para a Receita, que funcionava nos últimos andares do edifício Rio Negro, na avenida Leopoldino de Oliveira. Perguntei como fazer e tive como resposta que era uma novidade para todos e que eu procedesse a meu critério e com muito critério. Lá fomos nós, no sol da tarde, a pé, cumprir a missão. O gerente, primeiro exigiu que nos identificássemos, pois tínhamos, ambas, 24 anos, sem nenhuma cara de que soubéssemos o que estávamos fazendo.  Conclusã passamos a tarde inteira anotando joia por joia na que eu considero a maior apreensão que já ocorreu enquanto estive na ativa. Terminada a exaustiva contagem e identificação, e é esse o ponto que quero ressaltar, as joias foram colocadas em duas maletas grandes, que nos foram entregues mediante recibo, para que as transportássemos até a Receita. Carregando aquela fortuna, voltamos a pé, sem nenhuma escolta ou proteção, felizes por termos dado conta daquela primeira tarefa desafiadora.

Imaginem se fosse hoje. Com toda a insegurança que nos cerca, jamais ousaríamos pensar em fazer isso. E, se fizéssemos, os riscos de sermos assaltadas e até mortas seriam consideráveis. O que mudou? Acredito que a causa de tudo que estamos colhendo hoje está na leniência do Poder Público, na incapacidade de planejamento, na falta de cobrança ativa dos indivíduos e na morosidade no agir. Medidas importantes deixam de ser tomadas por falta de consenso, coordenação eficiente e propósitos concisos e duradouros.

Hoje, muitos falam e poucos agem. E, quando esses poucos querem agir, esbarram em toda a sorte de dificuldades. Há um clamor por segurança, mas que ela caia do céu, sem que ninguém ceda um quinhão do seu butim; sem que ideias importantes sejam apoiadas; sem que repressão e prevenção se deem as mãos; sem que nenhum esforço extra seja demandado. As pessoas, comodamente, continuam acreditando em mágica e, enquanto isso, a violência descontrolada ceifa vidas inocentes.

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