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Infinidades de finitudes

O infinito é algo que não conhecemos totalmente, é abstrato, distante de nós. Contrariando...

Julia Castello Goulart
Publicado em 15/11/2016 às 19:10Atualizado em 16/12/2022 às 16:35
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O infinito é algo que não conhecemos totalmente, é abstrato, distante de nós. Contrariando a ideia de que só tememos o que desconhecemos, é engraçado pensar que tememos muito mais o finito que o infinito. O finito são os fins. Pode ser um ponto final, marcando o fim de uma narrativa, fim de relacionamentos, ou fim de uma vida. Parece óbvio pensar que a negação de estar vivo é estar morto. Mas por que, então, evitamos pensar nos fins, na temível palavra morte, mesmo ela sendo inevitável?

Foi pesquisando sobre o assunto que me encontrei em uma das “esquinas nem sempre iluminadas da internet”, com o historiador francês Philippe Ariès. Ele estudou sobre os diferentes significados da morte e como ela era vista pelas diferentes sociedades, em diferentes períodos históricos, publicando o livro “História da morte no Ocidente”. Ele identificou que, diferentemente de hoje, durante a Idade Média, a morte era “domada”, era vista como algo natural, talvez pela grande influência dos valores da Igreja Católica. Hoje a morte é vista como “selvagem” e é negada pela nossa sociedade ocidental atual. Segundo ele, essa mudança tem a ver com vários fatores ocorridos na nossa sociedade, um deles o afastamento das questões religiosas, espirituais. Povos mais religiosos e alguns países do Oriente, por exemplo, acreditam que a morte é apenas uma passagem ou um recomeço, não sendo considerada negativa e temida, como é para nós. A ciência na qual nos aproximamos em contraponto tornou-se a nossa chance de buscarmos um antídoto.  Talvez, não para a vida eterna, mas para retardar cada vez mais esse fim.

O problema que não queremos que esse “fim” chegue, mesmo que ele venha na maior parte das vezes, sem avisar. Acreditamos que ainda temos muito o que viver e que não concluímos todos os planos que fizemos para o futuro. Trocamos o certo pelo duvidoso, sem perceber: mesmo o amanhã sendo incerto, perdemos a única certeza que temos, o presente, elaborando planos futuros. Sentimos muito a falta daqueles que uma hora encontram seu ponto final, mas a saudade demonstra exatamente como eles foram importantes para nós em vida.

Portanto, o medo da morte seja exatamente porque a enxergamos como um fim. Mas muitos fins, como fins de relacionamentos e de histórias, podem ser a oportunidade para novos recomeços. Para a natureza, todo vegetal e animal voltam para o ciclo, dando origem a novas vidas. Acreditando ou não em uma vida após a morte, temos que destemer a vida e não temer seu fim. Pois o melhor da vida é estar vivo. Não importa o início e o fim, a melhor parte encontra-se entre elas, o recheio. Permita-me fazer uma metáfora: Assim como um bolo, já no início, ansiamos pelo recheio, mas somente quando chegamos ao fim é que percebemos como o recheio é a melhor e mais saborosa parte do bolo!

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