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É Verdade... É Verdade... (Igualzinho e tanto quanto o seu pai.)

Dias passados, numa sala de espera de um colega de Odontologia, eu aguardava ser atendido...

Manoel Therezo
Publicado em 09/11/2016 às 20:05Atualizado em 16/12/2022 às 02:42
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Dias passados, numa sala de espera de um colega de Odontologia, eu aguardava ser atendido. Enquanto esperava, folheava uma revista. Lá, duas senhoras, uma bem gorda e a outra, nem tanto, conversavam. Pela prosa em alto tom, entendi que não faziam segredo do que falavam. Eu fingindo atento às coisas da revista, não me descuidava de ouvir o que estavam falando. Acabei por entender que falavam dos filhos de ontem e dos filhos de hoje. A mais gorda falava de espumar o canto da boca. A outra, não. Eu virava as folhas da revista sem nada ler porque, o assunto daquelas duas me parecia mais interessante. Manifestava a mais gorda, que os filhos de ontem, era mais respeitosos. Em momento algum, chamariam o pai ou a mãe de “Você”, como os filhos de hoje chamam os seus. Aqueles, falava a mais gorda, não se assentavam sobre o sofá ou sobre a cama com os sapatos sujos como os de hoje se assentam—aliás, se assentam em qualquer lugar, esteja limpo ou sujo, porque não são eles que lavam as suas roupas, dizia. Nenhum dos filhos de ontem, usariam brinquinhos como os de agora usam, até nas duas orelhas. As mocinhas de ontem, não faziam tatuagens próximas aos tornozelos como as de hoje são mestras nisso por acharem bonito e erótico. Beijar? Ah!...Pelo amor de Jesus Cristo... Lógico que se beijavam—mas, às escondidas, não como hoje, abertamente. Sabe você de onde eles aprendem essa pouca vergonha? Sem esperar a respostas, ela mesma respondia, ser da televisão com suas novelas. Pra lhe ser sincera, quando na novela começa aquela beijação, aquela garração, eu saio da sala envergonhada. As filhas de ontem, continuava; não vestiam aquela bermuda apertadinha pra mostrarem o bumbum estufado. Também não usavam as rasgadas, mostrando o que não é preciso mostrar. A cada instante, o papo ficava mais detalhado e eu, receoso de ser chamado para o atendimento. Minutos depois, a auxiliar nos avisava que um imprevisto era a causa daquele transtorno, mas que todos seriam atendidos. Achei bom demais o acontecimento que me oportunava ouvir aquelas duas criaturas. Aquelas duas, mal digo porque, a menos gorda, se resumia em apenas dizer: “É verdade... É verdade”. A gordona continuava dizendo que as filhas de ontem, não ficavam até altas horas da noite nos barzinhos bebendo, beijando o namorado descaradamente como as de hoje fazem.  Outro horror que eu não tenho como concordar, é que a as filhas de hoje, nada sabem de culinária—diferentes das de ontem que cozinhavam igualzinho, tanto quanto a sua mãe. — É verdade... É verdade, confirmava a mais magra. Repentinamente a porta se abriu e auxiliar me convidava para o atendimento. Para não perder a conversa, fui entrando vagarosamente, mas ainda escutei a mais magra dizer: A senhora certamente ainda não percebeu uma coisa! — O que, minha amiga? — As filhas de hoje, bebem igualzinho e tanto quanto o seu pai. Riram... Eu ainda com meio corpo na sala de espera, atrevidamente confirmei: É verdade... É verdade...

(*) Prof. “Emérito” da Faculdade de Odontologia e Ex-Vice Diretor Geral das Faculdades Integradas de Uberaba-FIUBE—Portaria 5/76

manoel_­­[email protected]

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