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Pra começo de conversa

Tem muita coisa estranha nesse mundo, não tem? Essa foi a pergunta que o primo do Zé fez...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 06/11/2016 às 11:16Atualizado em 16/12/2022 às 16:43
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“Tem muita coisa estranha nesse mundo, não tem?” Essa foi a pergunta que o primo do Zé fez hoje cedo pra ele. Muita gente deve fazer a mesma pergunta, todo dia. E as respostas são tantas quantas são as pessoas que perguntam. Coisa estranha tem até na nossa cabeça, melhor nem falar.

Ele ficou pensando nisso a manhã toda. A coisa complicou quando ele resolveu dar uma volta pelo bairro. “Nossa, quanta coisa esquisita!” Era lixo espalhado, buracos na calçada, entulho na rua, um calor danado... Também, pudera, cadê as árvores? Jogou a culpa no prefeito, de cara!

É curioso, ele pensou, mas nunca tinha conversado com nenhum prefeito! Pois é, poderiam conversar sobre essas coisas, sobre os problemas, as soluções, sobre desenvolvimento, emprego, trânsito, barulho... Ele andava e reparava. Espantado. Quanta coisa para resolver! Limpeza urbana, traçado das ruas, ampliação das áreas verdes, de praças e de jardins, horário dos ônibus, coisas assim, que, aliás, interessam a todo mundo.

Nunca conversaram, mas sempre fez críticas, raras vezes, elogios. Pensou em conversar sobre finanças, impostos ou tributação, ciente de que sem dinheiro não se tocam obras. Mas achava que isso era problema dele e das pessoas que a prefeitura contrata para resolver isso. “O que eu quero é uma cidade bonita e agradável”, pensava. Quem não quer?

Então, ele achou que devia procurar o prefeito no seu gabinete. Teria oportunidade de expor suas ideias, de falar de alguns projetos e, se tivessem tempo, queixar-se de algumas situações desagradáveis, assim poderia até responder ao primo. Achou que como cidadão, como eleitor e trabalhador, ele deveria ir vê-lo. Que tal?

Imaginou que sairia cedo de casa, pegaria sua bicicleta e iria até a prefeitura. Chegando lá, iria apertar a campainha, ou bater palmas, e esperar ser recebido. Se não fosse logo atendido, ele aguardaria. Certamente, iriam oferecer-lhe um copo d’água, um cafezinho, talvez até uma quitanda, um biscoito. Sem pressa. Se tivesse uma revista ou um jornal, isso até ajudaria a começar a conversa: “O Senhor sabe, pois deve ter lido no jornal...” Pronto, estava quebrado o gelo, eles poderiam falar sobre o último filme que assistiram, sobre a situação do campeonato de futebol... Pra qual time ele torce? Era importante descobrir!

“Todos os prefeitos devem ouvir o cidadão”, murmurou. Ele iria dizer que tem a hora certa de plantar e a de colher, iria dizer que é preciso cuidar bem dos meninos da escola, de limpar melhor a sujeira das ruas, de não deixar as praças escuras e descuidadas. Ficou em dúvida: “será que ele vai me ouvir? Sim, claro que vai, não foi pra isso que ele foi eleito?” Poderiam até dar uma volta pela cidade. Afinal, é caminhando que a gente se entende! Não é?

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