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Motoristas solidários

Tenho frequente convivência com um dos cruzamentos mais perigosos de Uberaba...

João Eurípedes Sabino
Publicado em 28/10/2016 às 19:26Atualizado em 16/12/2022 às 02:43
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Tenho frequente convivência com um dos cruzamentos mais perigosos de Uberaba, embora as estatísticas sejam generosas com ele. Ali são registrados poucos acidentes é verdade, mas os “quase acidentes” ocorrem aos montes. Refiro-me à “cruz” formada entre a Av. Leopoldino de Oliveira com R. Major Eustáquio. Carros muitas vezes invadem a faixa de pedestres e ficam...  

Recentemente, numa das minhas passagens pelo local, não só assisti como participei da seguinte cena: um amigo de longa data era trazido quase carregado por duas pessoas e seu aspecto transparecia estar acometido de intensa dor. Diante da faixa de pedestres, pararam na esperança de que o semáforo permitisse a passagem dos três. Estava demorando. Não hesitei. Fui para o meio da R. Major Eustáquio, abri os dois braços em sinal de “pare” e recebi a solidariedade dos primeiros motoristas. As filas começaram a crescer e, interessante, ninguém buzinou ou forçou a passagem.

Meu amigo e sua “escolta” passaram lentamente - já que não podia ser de outro jeito - e galgaram o passeio oposto até entraram no prédio onde ele reside. Felizmente, hoje está tudo bem com o meu amigo.

Parado estático no leito da rua eu mirava os olhos de cada motorista solidário. Refleti que aquele era o dia do meu amigo e amanhã, ou hoje mesmo, poderia ser o meu. E mais: o amanhã está tão longe, quanto tão longe está a data de amanhã... E liberei o trânsito.       

Já presenciei quedas e mais quedas de pessoas nos passeios próximos àquele local. As calçadas, de níveis irregulares a buracos a céu aberto, são ameaças vivas a convalescentes, idosos e portadores de necessidades especiais. Por ali não devem passar a pé, autoridades que defendem os direitos difusos.

Confesso que me arvorei em agente de trânsito sem autoridade para tal, apesar de conhecer a arte desde os meus tempos de Guarda Mirim. Sei que não devia fazê-lo, mas vai daqui as perguntas: cadê o agente de trânsito? E se meu amigo estivesse naqueles três minutos essenciais ao salvamento de sua vida? Você leitor, não agiria?      

Quando eu abraçava um amigo em pleno canteiro central de uma via ou mesmo nos cruzamentos, enchia-me de júbilo por imaginar que esse nosso jeito, só nosso, nunca mudaria. Engano meu. As ilhas centrais estão sendo extintas ou caindo em desuso e os cruzamentos, com os malabaristas fazendo evoluções, me forçam a mudar...

Ainda bem que muitos motoristas continuam solidários...

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