ARTICULISTAS

O homem e suas circunstâncias

Em nossa adolescência, quase todos nós lemos Robinson Crusoé, romance-aventura de Daniel Defoe...

Padre Prata
Publicado em 23/10/2016 às 16:34Atualizado em 16/12/2022 às 16:54
Compartilhar

Em nossa adolescência, quase todos nós lemos Robinson Crusoé, romance-aventura de Daniel Defoe. Já adultos, vimos o filme “O Náufrago”, com Tom Cruise. Num e noutro nos divertimos com as desventuras de um náufrago vivendo sozinho numa ilha desconhecida.

Não se compreende o homem vivendo em tais condições. O homem só pode ser compreendido dentro de um quadro de relacionamento. Ele é um ser que se relaciona. Seu relacionamento é a medida de sua compreensão.

Alguém já disse que o homem são as suas circunstâncias. Ele é aquilo que o envolve. Sua essência é profundamente marcada pela sua existência. Ele cresce ou estiola na medida de seu relacionamento. Mais. O que marca o homem não é sua razão. É sua vivência afetiva. É seu coração. É aquilo e são aqueles que ele ama. A razão é fria. Esmaga. O coração é calor. Revigora. Quando se quer medir a maldade de um homem, a expressão é universal: “Ele não tem coração”. Ou entã “Ele tem um coração de pedra”. Ou ainda: “Se eu chutasse seu coração, eu quebraria o pé”. Quando a Palavra de Deus nos convida à conversão, assim nos fala pelo Profeta Ezequiel: “Eu lhes tirarei o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.” Ninguém se esquece daquelas palavras de Jesus àquela prostituta: “Teus pecados te são perdoados porque muito amaste. A quem muito ama, muito se perdoa.” Jesus nem sequer perguntou se ela tinha alguma religião ou crença. Simplesmente perdoou.

Nós somos muito preocupados com leis, mandamentos e ortodoxia e vamos nos tornando frios, cruéis em nossos julgamentos e atitudes. Como não amamos, os erros de nossos irmãos nos são um prato cheio. Não perdemos missas nem novenas, mas perdemos a misericórdia. Nem sequer sabemos o que significa compaixão. Como não amamos a ninguém, achamos que amamos a Deus. Ninguém vive sem amor. Amar é exigência do mais profundo de nosso ser. Hoje, infelizmente, quando se fala em amor, pensa-se em sexo. Por que não voar um pouco mais alto? Existe um amor sem exigência. Sem esperar por resposta. Sem cobrança. Sem aquela excrescência doentia que se chama ciúme.

Relacionamento é um campo real. Existencial. Dentro dele nos movemos e somos. Existe um relacionamento transcendental, um encontro com Deus. Não é só. Nós nos relacionamos também com nossos irmãos, com nós mesmos e com a Natureza. Nessas áreas de encontro eu me construo a mim mesmo ou eu me destruo arrastando comigo muitos que dependem de mim ou que esperam por mim. Somos solidários uns com os outros. Uma dançarina francesa convertida, Elizabete Leseur, expressou bem tudo ist “Aquele que se eleva, eleva o mundo.” Em contrapartida, aquele que se afunda não se afoga sozinho. Às vezes, não tomamos consciência disso, mas há muita gente que depende de nós e não sabemos. Somos responsáveis por muitas pessoas e passamos batidos. É o mistério da solidariedade humana.

Não somos inúteis. Por tudo isto é que não consigo entender a queixa tantas vezes repetida: “O que estou fazendo aqui neste mundo?”

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por