Vida inteligente

Andam discutindo se há vida inteligente em outras galáxias. Muita gente acredita e contam estórias fantásticas, embora não apresentem argumentos sólidos. Apresentam apenas probabilidades. Acredite se quiser. Enquanto gastam bilhões de dólares para descobrir se há vida em Marte, aqui na Terra muitos milhões de pessoas passam fome.

Muitos atestam já ter tido contatos, inclusive afetivos, com extraterrestres. Descrevem altura, formato do rosto, roupas, cor da pele. Há uma tendência generalizada em descrevê-los de cor verde. Verdes e pequenos. Alguns com antenas. Outros com um olho só. Falam que deram uma volta em naves, deslizando suaves pelo espaço. Dentro da nave, uma atmosfera azul. Concordam em afirmar que são seres muito inteligentes. A inteligência é importante nas narrativas. Não utilizam palavras. A comunicação é telepática.

Não apenas os ETs são inteligentes. Há gente por aí mostrando entusiasmo pela inteligência dos chimpanzés. São inúmeras as reportagens apresentando-nos índices de semelhança de genes entre humanos e símios. Há apaixonados que andam treinando nossos “primos” para que aprendam a falar. Depois de vinte anos de aulas diárias, alguns já conseguem pronunciar cinco palavras inteligíveis. É de dar inveja ver aqueles macacos bem nutridos, vestidos com roupas coloridas, de boné vermelho, comendo com faca e garfo, palitando os dentes e fumando charutos. São inteligentes? São, como também são inteligentes os golfinhos e os salmões. Só que fazem hoje as mesmas coisas que faziam há mil anos. Não progrediram nada. Também não me consta que tenham inventado alguma coisa de útil. Continuam comendo banana e exalando mau hálito.

Os cientistas, além da preocupação com chimpanzés, andam muito orgulhosos com uma bomba que apelidaram de “bomba inteligente”. Já acertaram um Consulado não sei onde e um hospital da Cruz Vermelha. Muito inteligentes essas bombas...

Parece que agora chegou a vez do computador inteligente. Foi o que li numa revista. Dentro de pouco tempo vão chegar lá. Não sei bem do que se trata, se esse computador vai sentir emoções e se vai poder discutir sobre “a insustentável leveza do ser” ou se vai aprovar ou não as teorias de Lacan. Como seria um computador amando? Não consigo nem sequer vislumbrar o quadro.

Até agora o computador não revelou inteligência nenhuma ou eu não sei o que significa ser inteligente. O computador é apenas um repetidor de programação que um ser inteligente botou dentro dele. Se não aparecer alguém para clicar o “iniciar”, ele é apenas um montão de chips, nada mais. A verdade é que eles se tornam cada vez mais rápidos.

Marcelo Gleiser, astrônomo brasileiro e professor em uma Universidade Americana, afirmou que a Ciência jamais desvendará o funcionamento da mente humana.

Inteligência é um mistério indevassável. Esse “intus legere”, esse “ler dentro”, resiste a qualquer tentativa de explicação. A inteligência é reflexiva, dobra sobre si mesma. Pensa e sabe que pensa. Sofre e sabe que sofre. É todo o mistério da consciência. Pode ser que Deus esteja muito dentro desse indevassável segredo.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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