ARTICULISTAS

A laranjinha

João Eurípedes Sabino
Publicado em 14/10/2016 às 09:26Atualizado em 16/12/2022 às 17:01
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No meu pequeno pomar há um pé de laranjinhas kinkan, que, em japonês, quer dizer laranja de ouro. São saborosas, nutritivas e comestíveis com casca. São ricas em cálcio, potássio, fósforo, ferro e outros minerais, além das vitaminas A e C. Entra ano e sai ano, tem laranjas novas no pé.

Recentemente, vieram ao mundo dezenas de pequeninas frutas que só colhi depois de maduras. Dou um leve toque nos galhos e na maioria das vezes apanho as frutas no chão. Aí tenho a certeza de que não deixei o talo exposto à entrada de fungos e outros males.

Algo interessante está ocorrend uma laranja remanescente do grupo que foi colhido resiste sozinha há dias sem amadurecer totalmente. Percebe-se que a fruta está firme no galho e dá sinais de que ainda vai longe. Hoje tentei colhê-la e vi que não é hora. Não adianta eu querer, se a natureza é quem dá as cartas.

Diante da nova floração que desponta e da laranjinha persistente, fui instado a refletir. Por que só uma fruta está aguentando o vento, o sol intenso e, nos últimos dias, a chuva com possível frio que virá? Por que, da mesma planta, nasceram várias frutas, já colhidas, e só uma não chegou ao ponto ainda?

Vale a comparação com os filhos. Muitos nascem dos mesmos pais, bebem do mesmo leite materno, são educados igualmente, recebem as mesmas lições, ganham oportunidades análogas, cumprem obrigações parecidas, etc., mas o amadurecimento de todos não necessariamente ocorre ao mesmo tempo. Um ou outro vai amadurecer mais tarde. Parecem estar maduros, mas não estão.

“O filho é obra interminável”, anotei esta frase de Dr. Ângelo Manzan, ícone dos Promotores de Justiça que serviram em Uberaba. Calou-me tão fundo a sua expressão dita nos anos sessenta que cunhei recentemente estas palavras: O filho é obra interminável / Que nunca pode ter um fim / Quanto mais passa o tempo / Mais cresce dentro de mim / Hoje já está adulto / Para mim ele não cresceu / É ainda uma criança / Próxima do dia em que nasceu.

Minha laranja kinkan, solitária em seu pezinho, é eloquente ao mostrar que, quando chegar o momento, estará madura. Minha impaciência em nada resultará se processos além do meu querer estão em andamento. Uma simples e delicada fruta não consigo apressar, sem artifícios, para vê-la madura. O que dirá você, leitor(a), quanto ao amadurecimento dos filhos, se nada ocorre antes e nem depois? Tudo obedece a princípios e Normas Superiores inexoráveis.

(*) João Eurípedes Sabino

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