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Política não é fácil!

O João é um conhecido meu, um bom sujeito, trabalhador, esposo e pai responsável...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 09/10/2016 às 11:17Atualizado em 16/12/2022 às 17:04
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O João é um conhecido meu, um bom sujeito, trabalhador, esposo e pai responsável, seja lá o que isso signifique nos dias de hoje. Ele é mais conhecido pelo filho, o Joãozinho. Não há professor ou professora que não conheça pelo menos a fama. Joãozinho é um menino esperto, põe o pai no chapéu. Moleque levado!

Nos últimos dias, outra coisa, além do filho, tem preocupado o Joã as eleições. Elas acabaram, ficaram pra trás, quase esquecidas, mas o pobre diabo anda, segundo suas próprias palavras, acabrunhado e encafifado; duas palavras antigas que ele ouvia a avó falar e conservou o hábito. Palavras bonitas, não? Elas são parecidas, mas não são iguais, não têm o mesmo sentido.

O João diz que não gosta da política, sempre votou obrigado, é daqueles que preferem assistir a novela a ler um livro. Só que as últimas eleições o deixaram pensativo. Na segunda-feira, passou na banca e comprou o jornal com o resultado do pleito. Depois da janta, ao invés da TV, foi ler o jornal. Dona Abrilina, sua esposa, até desconfiou.

João fez as contas. Mesmo não sendo muito bom em matemática, somou os votos dos vereadores eleitos e chegou a 42 mil votos. Até aí, tudo bem, agora precisava saber que propostas tinham para a cidade. Quase tirou conclusões maliciosas. Em seguida, reparou que as abstenções, os votos brancos e nulos passaram de 70 mil! Achou estranho. Soma aqui, subtrai ali e encontrou 95 mil votos dados aos vereadores que não se elegeram, mais que o dobro dos votos dados aos que se elegeram. Que matemática esquisita!

A confusão se estabeleceu em definitivo quando ele se lembrou das antigas lições do professor de História sobre voto, democracia e representatividade. Ora, se a Câmara dos Vereadores representa a sociedade, tinha alguma coisa errada ali. Seriam as contas? A metodologia? As aulas de História? Apelou pro Joãozinho que tinha na ponta da língua a quantidade de eleitores da cidade: 224 mil, e, desses, 53%, eram mulheres. Voltou ao resultado e constatou abismad 14 vereadores eleitos e, entre eles, só uma mulher! Será que elas não se interessam pela vereança? Indagou baixinho se política era coisa de mulher, mas logo abandonou a ideia esdrúxula, até porque da última vez que discutiu o assunto perdeu feio, nem o espertinho do filho, que estava de olho num aumento da mesada, ficou do seu lado; Joãozinho podia ser interesseiro, mas não era bobo.

Achou melhor mudar de assunto, verificar se a novela tinha terminado, chamar os amigos para jogar truco... Não conseguiu dormir direito aquela noite. Os números da política tinham dado um nó na sua cabeça. Estou pensando em como ajudá-lo, será que consigo? Na verdade, não sei se compensa, mas a esperança pode estar no Joãozinho, isso se a escola, a burocracia ou uma bisonhice qualquer não enquadrarem-no antes!

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