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Hipocrisia

Quando agimos ou falamos, somos movidos por uma única razão, o resto são justificativas que apresentamos...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 02/10/2016 às 09:05Atualizado em 16/12/2022 às 17:09
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Quando agimos ou falamos, somos movidos por uma única razão, o resto são justificativas que apresentamos para enganar os outros e a nós mesmos. Passamos a acreditar nelas, sem coragem de enfrentar o verdadeiro motivo da ação ou da fala. Admitir nossas fraquezas, imperfeições e razões ocultas já é um grande passo rumo ao aperfeiçoamento e evolução. Enquanto não fazemos isso, usamos e abusamos da hipocrisia, em menor ou maior grau.

No cenário político brasileiro, a hipocrisia reina absoluta. Tomemos como referência a cassação do mandato do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que, embora respondendo a vários processos por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e outros delitos graves, foi cassado porque mentiu aos seus pares dizendo que não tinha conta na Suíça. Quanta hipocrisia! Como se os membros do nosso glorioso Congresso fossem os guardiões da verdade pura e cristalina. Se ele tivesse admitido a conta no exterior, continuaria deputado?

Ainda no hipócrita mundo da política brasileira, estamos assistindo a um festival de incoerências, quando os acusados que se consideram acima da lei vão às lágrimas defendendo seus familiares das garras da Justiça, como se intocáveis fossem, pelo simples fato de serem seus parentes. “Deixem minha família em paz”, esbravejou um ex-presidente totalmente enrascado nas investigações da Lava-Jato, questionando a necessidade de operações policiais e explicações midiáticas dos procuradores.

Esqueceu-se, propositadamente ou por insensibilidade mesmo, que em seu governo assistiu-se a um espetáculo de pirotecnia na invasão da casa de Eliane Tranchesi, dona da loja Daslu, acusada pelo crime de sonegação fiscal. Essa ação truculenta, sua prisão e as constantes exposições na mídia custaram-lhe a vida, levada por um câncer com o qual ninguém se apiedou. O mandatário máximo avalizou e aplaudiu a ação da Polícia Federal, pois se tratava, em suas palavras, de combater as elites, dane-se o entorno, afinal, eles não mereciam respeito porque não pertenciam ao seu time ideológico. O mesmo presidente, que hoje chora e esperneia, autorizou a extradição em 2007 de dois boxeadores cubanos que pediram asilo ao Brasil, deportando-os sem dó e piedade, alheio ao que suas famílias enfrentariam em Cuba pelo ato de coragem dos seus. Valeu muito mais sua fidelidade ao Fidel, desculpe o trocadilho, do que a vida de pessoas que ousaram discordar do regime comunista.

Tenho mil outros exemplos para citar, me falta espaço. Mas fica aqui minha real preocupaçã enquanto não eliminarmos de vez a hipocrisia do cenário político e de nossas vidas, continuaremos nos enganando como povo e indivíduo.

Marcia Moreno Campos

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