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Escola sem partido?

Prezado Joãozinho, você sabe que é preciso entender melhor essas questões da Educação...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 25/09/2016 às 13:47Atualizado em 16/12/2022 às 17:14
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Prezado Joãozinho, você sabe que é preciso entender melhor essas questões da Educação, mas parece que todo mundo tem pouco tempo e pouco interesse em estudar o assunto, ou não? Da minha parte, como professor atuante, apaixonado pelo que faço, tentei acompanhar as mudanças, as teorias, as discussões, em especial a história da educação no Brasil. E digo a você: a escola brasileira sempre foi uma “escola de partido”, desde que os jesuítas aqui chegaram. Mesmo após 1889, com a República, a educação continuou a ser conduzida pelos partidos, isto é, pelos senhores influentes e pelas famílias poderosas.

Desculpe, mas vou tentar ser o mais didático possível, pois imagino que você não seja da área educacional. Isso não significa que não possa dar “palpites”, mas estudar e compreender a educação como um processo histórico e científico é outra coisa além de “dar palpites”. Qualquer um pode palpitar, em todas as áreas, da política ao futebol, mas interferir nos processos sem compreendê-los é difícil. Eu não sou engenheiro, portanto não me meto a fazer cálculos para erguer edifícios. Correto? Não quero com isso reforçar o “discurso competente”, dizendo que só o especialista é que pode opinar sobre determinado assunto, não é isso! Mas, se quisermos entender a essência de um fenômeno, se quisermos compreender, por exemplo, a relação entre a sociedade e a educação, é melhor estudar um pouquinho, ler, analisar a realidade. Melhor verificarmos como as coisas evoluíram, o que já se escreveu sobre o tema, etc. Correto?

Então, após algumas leituras, depois de conversar com quem estuda a questão e observar durante um bom tempo, por dentro e por fora, a educação nacional, eu confirm a escola brasileira sempre foi “de partido”. Sempre esteve, com raras exceções, a serviço de um determinado grupo, de um determinado projeto de poder, da Coroa Portuguesa, passando pelos escravocratas, até os especuladores do presente. Chato, não?

A educação é assim mesmo, ela reflete a sociedade e as contradições de seu tempo. Se um grupo autoritário se assenhora do poder e se sobrepõe às instituições sociais, quer dominar a educação também, impondo seu projeto, sua visão POLÍTICA. No Brasil, muitos trabalharam e lutaram para garantir que a educação nacional fosse mais inclusiva, menos excludente, mais democrática. Foram rechaçados. A educação brasileira, essa que continuamente tentaram domar, e agora querem que seja “sem partido”, sempre foi subjugada, em grande parte, pelo establishment. Raras vezes foi possível livrar a educação das amarras do positivismo e até hoje tem gente que defende besteiras pedagógicas como punição, reprovação, notas, etc. Isto sim é um projeto retrógrado, que boa parte da sociedade brasileira deseja que mude, mas que os fiscais da ordem social querem manter, mais uma vez, numa clara submissão ao partido deles, com o custo de muitos desgastes, de infelicidade e de tristeza. Compreendeu? Escola sem partido? Não seja ingênuo, Joãozinho!

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