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Raposa velha

Chegara um novo juiz à comarca do interior, onde havia a fama de o velho político local...

Ricardo Cavalcante Motta
Publicado em 24/09/2016 às 19:58Atualizado em 16/12/2022 às 02:45
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Chegara um novo juiz à comarca do interior, onde havia a fama de o velho político local tentar influenciar nas decisões judiciais. 

Fora anunciado ao juiz que, na sexta-feira, o chefe do Executivo, considerado “uma raposa velha”, e o presidente da Câmara fariam uma visita de boas-vindas, em nome dos poderes Executivo e Legislativo. O escrivão, talvez da oposição, logo preveniu o juiz que, na segunda-feira, haveria uma audiência em que o pai do presidente da Câmara seria o réu. Ponderou o escrivão, diante da audiência referida, se seria conveniente recebê-los naquela ocasião. O juiz respondeu que poderia agendar a visita, que seria bom para já estabelecerem os moldes da convivência, e, tendo estudado o processo da segunda-feira, não haveria constrangimentos. Que preparassem um café. 

Recebidos os visitantes, o experiente político do Executivo, de modo delicado e cordial, já foi logo dizendo ao juiz que não precisava se inibir com a visita, que era de mera cortesia. E o juiz respondeu, serenamente, para ficarem tranquilos; os poderes devem conviver em harmonia. – “Tenho certeza que não vão tocar no assunto da audiência afeta ao pai do nobre edil, que acontecerá na segunda-feira. Assim sendo, podem ficar à vontade.” A visita, então, foi breve. Resumiram a dizer boas-vindas depois de se entreolharem muito sem graça. Partiram logo os visitantes.

Quando o escrivão, curioso, chegou conduzindo a servente com o café, nada entendeu. Já tinham ido embora.

A audiência se deu normalmente, depois muitas outras, sem novas visitas.

(*) Juiz de Direito

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