ARTICULISTAS

De novo, as crianças

Que quem já é pecador/ sofra tormentos, enfim!.../ Mas as crianças, Senhor,/ por que...

Mário Salvador
Publicado em 30/08/2016 às 20:19Atualizado em 16/12/2022 às 17:32
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“Que quem já é pecador/ sofra tormentos, enfim!.../ Mas as crianças, Senhor,/ por que lhe dais tanta dor?.../ Por que padecem assim?!...” De novo, nos vêm à mente os versos de Balada de Neve, do poeta português Augusto Gil. Ao olhar pela vidraça, o poeta percebe as pegadas de uma criança descalça na neve. E, na vida real, de novo, ficamos impressionados com a imagem de uma criança que sofre com a ignorância humana. É a vez de Omran Daqneesh.

São milhares as crianças banidas de suas pátrias por causa da guerra, procurando, com suas famílias, um abrigo em terras distantes. Campos de refugiados têm mais crianças que adultos. E são milhares, também, as crianças que morrem a caminho de um refúgio. O mundo ficou estarrecido diante da foto do menino Alan Kurdi, refugiado sírio de três anos cujo corpo foi encontrado estendido em uma praia, quando a família tentava a travessia para a Grécia. Agora nos sensibiliza a imagem do menino Omran Daqneesh, de 5 anos, sentado no banco de uma ambulância, coberto por sangue e pela poeira dos escombros de sua casa, que foi destruída por uma bomba. O menino sírio se tornou símbolo de Aleppo, que é disputada por diversos grupos. Recolhido dos escombros, Omran foi colocado ao lado da irmã, no carro que os levou ao hospital. Omran, atônito, com olhar perdido, passou a mão no rosto, e a notou cheia de sangue, mas não chorou. O irmão deles foi encontrado morto.

O país dessas crianças vive uma guerra. A luta pelo poder tem destruído, há cinco anos, uma rica e bela nação e seu povo. Não se sabe o que restará desse país e desse povo quando terminar a guerra. Cerca de 8,4 milhões de crianças sírias foram afetadas pelos combates.

E bem recentemente, na Turquia, um jovem com idade presumida de 12 anos transformou-se em jovem-bomba ao se explodir em uma festa de casamento, matando 51 pessoas e ferindo outras 69. A Turquia é outro país cuja população sofre com as consequências de uma luta interna pelo poder.

No Brasil, o envolvimento de crianças em crimes é sempre notícia, especialmente quando elas são aliciadas para movimentar o mundo das drogas.

 “E uma infinita tristeza,/ uma funda turbação/ entra em mim, fica em mim presa./ Cai neve na natureza/ e cai no meu coração...” – assim termina aquela poesia. Enquanto, nesses versos, a dor que inspira o poeta é provocada pela natureza, as imagens da dor que hoje nos choca é provocada pela crueldade humana, que atinge crianças pelo mundo todo. Com urgência, a comunidade internacional precisa agir para que as crianças conheçam a paz e possam, enfim, viver como crianças.

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