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Uma carta sem destino

Toda carta contém uma ideia em condições de se tornar realidade. Pode ter um ou mais...

Aristóteles Atheniense
Publicado em 25/08/2016 às 18:46Atualizado em 16/12/2022 às 17:36
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Toda carta contém uma ideia em condições de se tornar realidade. Pode ter um ou mais destinatários, mas não terá sentido se não contiver em seu texto uma proposta viável a ser concretizada. Assim ocorreu com as cartas de São Paulo dirigidas aos Romanos, Gálatas, Filipenses, Coríntios e outros povos a quem pretendia levar os ensinamentos de Cristo.

Em 2002, o professor Goffredo da Silva Telles Júnior elaborou uma “Carta aos Brasileiros”, sustentando que a eleição de Lula não constituiria uma ameaça ao mercado financeiro, ante as incertezas que a sua investidura pudesse trazer ao país.

A recente carta de Dilma Rousseff aos senadores, às vésperas do decreto de seu impeachment, revela-se ineficaz e inoportuna ao defender a realização de um plebiscito que não encontra respaldo na Constituição Federal. Esta inusitada sugestão foi combatida dentro do PT, cujo presidente, Rui Falcão, emitiu pronta censura assim que foi anunciada.

De outra parte, não faz sentido continuar insistindo nos mesmos motes já repelidos pelos seus correligionários, renovando as acusações feitas ao processo em curso, taxando-o de um “golpe de Estado” contra as instituições.

O Supremo Tribunal Federal, como última instância do Judiciário, afastou esta hipótese, em razão da previsão constitucional que lhe confere legitimidade. Não menos relevante é o fato de o PT já haver tentado o mesmo expediente legal contra os antecessores de Lula da Silva.

A tentativa esboçada por Dilma é extemporânea, ultrapassadas as ocasiões em que poderia ter acenado com um pacto de governabilidade que livraria o Brasil da crise a que foi levado pelo lulismo obstinado.

Quanto ao seu desconhecimento do que vinha ocorrendo e contribuindo para o processo instaurado, trata-se de uma afirmativa hipócrita, importando no reconhecimento explícito de sua incapacidade como gestora maior de um país cambaleante.

Enquanto pendiam as acusações que concorreram para o impeachment, Dilma não teve a coragem de enfrentá-las, limitando-se a negar que tenham ocorrido, contando com a ajuda de seu mentor, o ex-presidente Lula, que ela pretendeu converter em Ministro-Chefe da Casa Civil.

A humildade com que se apresentou na fala emitida no Palácio da Alvorada não passa de um recurso derradeiro para sensibilizar a Nação, como se ela estivesse sendo vítima de um ardil de seus opositores, tomados da intenção de apeá-la da governança suprema.

Os resultados já conhecidos no Congresso, por expressiva votação, revelam que o seu destino já está praticamente definido, frustrando novas tentativas fundadas em mentirosas versões que possam lhe assegurar um êxito nas derradeiras semanas de que desfruta.

Nesta fase de afastamento, não foram poucas as críticas mordazes desferidas contra o presidente interino, buscando desfazer qualquer providência de sua parte em contribuir para o restabelecimento da estabilidade econômica e política do Brasil.

Por tudo isso, a sua carta não se destina ao Senado, onde será julgada; nem ao povo brasileiro, que foi iludido em sua boa-fé ao lhe assegurar a permanência na Presidência da República.

Resta-lhe somente bater em outra porta. Talvez no exterior, seguindo o exemplo de seu criador, na tentativa final de convencer aos outros continentes, no apagar das luzes, de que não infringiu a Lei Maior.

A verdade dos fatos não leva ao reconhecimento de sua inocência.

Inocente mesmo foi o Brasil em adotá-la como Presidente, cuja sociedade foi transformada em cobaia de seus projetos delirantes.

(*) Advogado e conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do iamg, presidente da AMLJ

Twitter: @aatheniense

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