ARTICULISTAS

Um bauzinho de livros para Gabriel

Para contar a história de Gabriel, de 7 anos, começo pela sua avó Lúcia, que se tornou sócia de biblioteca...

Vânia Maria Resende
Publicado em 22/08/2016 às 08:34Atualizado em 16/12/2022 às 17:38
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 Para contar a história de Gabriel, de 7 anos, começo pela sua avó Lúcia, que se tornou sócia de biblioteca, para dobrar a cota de livros para ele, alimentando, assim, o seu ritmo acelerado de leitura. A experiência de acompanhá-lo à Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães de Uberaba, para retirar livros de empréstimo, ela viveu também durante a infância do filho Alexandre, que estudou Direito e foi aprovado pela OAB antes de finalizar o curso. A família agradece à Biblioteca Pública e à escolar, da escola municipal do bairro onde moram, pelo bem que os acervos das duas lhe proporcionaram e proporcionam. Conheci Lúcia, Alexandre e Gabriel por ocasião de uma mesa-redonda na biblioteca pública de Uberaba.

Ouvi o depoimento dos três, como representantes de usuários de duas gerações, antes que os expositores apresentassem suas visões de biblioteca pública, inclusive da uberabense. Passado um tempo do evento, a biblioteca e o Projeto Leia e Passe Adiante ofertaram ao Gabriel um bauzinho com mais de 30 livros, alguns até com o autógrafo de autores como Ziraldo e o uberabense Tiago de Melo Andrade. Faço uma correlação simbólica do abrir esse pequeno baú e ler os livros nele contidos com a caixa de Pandora, no sentido de que ele resguarda a esperança (de garantia de direitos humanos). E os males que escapam da caixa? Que seja no sentido de livrar a sociedade e os cidadãos da desigualdade, da anulação da consciência, da ignorância...

O garotinho fissurado em livro é exemplo de que certas crianças apresentam amor predestinado a esse objeto desde cedo. Quando são alimentadas nas suas necessidades por adultos antenados e sensíveis como a Lúcia, com certeza deslancharão de maneira notável. O empenho do adulto deve ser manter o interesse infantil à altura das exigências cognitivas e da sensibilidade, e dos sinais críticos no espírito do leitor que se acentuarão.

Histórias como a da família da Lúcia indicam que aqueles que consomem informação de qualidade e bens culturais como livros podem elevar suas condições civilizatórias, o que se afete a conduta pessoal, como também as relações e o funcionamento sociais. A avó confessou que é chique entrar na biblioteca, o que carrega um caráter afirmativo da cidadania e da autoestima, associada à inclusão, à maior consistência na formação do sujeito, sucesso. Se as aferições de caráter apenas prático concluirão que a leitura de bons livros dá consistência à formação do indivíduo, é fator de inclusão social, mas principalmente podem influir para um melhor futuro, com lucros reais, como bom emprego, fatura financeira, status.

Outra forma de se medir o sucesso além de lucros materiais, monetários, emprego rendoso, status são conquistas internas e compensações duráveis. A singularidade do indivíduo, o lugar único que ocupe no mundo lhe dão autoafirmação e também legitimação social. Se bem cuidada, quem sabe a criatividade de Rafael e outros tantos meninos geraria a obra inovadora de um grande pensador, pesquisador, artista? Mas, se não forem notáveis dessa forma, como homens comuns terão sucesso, na mais alta medida, se não abortarem a capacidade humana de sonhar e de ter uma visão livre e uma ação criativa.

*Vânia Maria Resende/ Educadora, doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa

Não basta ter gente bem formada para gerar empregos. É preciso ter um projeto de desenvolvimento e políticas públicas para gerar os empregos que usariam essa mão de obra mais qualificada.

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