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Brasil: o país do... (complete)

O Brasil tornou-se palco do esporte para o mundo. Nós, brasileiros, elogiamos a nossa festa...

Julia Castello Goulart
Publicado em 15/08/2016 às 08:04Atualizado em 16/12/2022 às 17:43
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O Brasil tornou-se palco do esporte para o mundo. Nós, brasileiros, elogiamos a nossa festa, a nossa alegria, mas não nos lamentamos pelos que estão sendo silenciados pelos protestos nas ruas. Elogiamos nossas músicas que falam de como o Brasil é bonito e feliz, enquanto há brasileiros que nunca ouviram o Hino Nacional. Estamos por um momento com vontade de gritar que somos brasileiros e dizemos nos preocupar com o nosso país. Entretanto, mal estamos nos importando e acompanhando os eventos políticos e econômicos, que ficaram em segundo plano.

Estamos nos conformando que o Brasil é assim, e o brasileiro, dessa forma, enquanto pouco tempo atrás estávamos denunciando a corrupção e discutindo sobre novas propostas. Mas será que já nos esquecemos? Estamos mais falando de Neymar ter perdido o jogo do que em comemorar nossas vitórias no futebol feminino. Por um lado, estamos exaltando o esporte e as Olimpíadas. E o esporte tem o poder fantástico de dar oportunidade para milhares de pessoas, de unir nações, de sentir o espírito esportivo, de se emocionar com perdas e vitórias.

Não há problema algum em elogiar o que somos e onde vivemos. É lindo torcer pelo seu país, porque na arquibancada não importa as nossas diferenças, somos brasileiros em primeiro lugar. Não importa de onde viemos, o esporte faz com que uma mulher negra da favela, que sofria preconceito, seja vencedora da nossa medalha de ouro no judô. Que um homem que não tinha lugar pra treinar ganhe uma medalha pelo tiro esportivo. Que na abertura das Olimpíadas todos os países possam desfilar pacificamente, independente de suas crenças, da religião e da cultura.

Mas, por outro lado, estamos tão deslumbrados com a nossa imagem para o mundo que estamos nos esquecendo dos nossos problemas aqui. Elogiamos o esporte e as oportunidades que ele cria, mas o nosso próprio país não o incentiva. São poucos os que realmente vivem do esporte e têm a chance de chegar onde os grandes estão.

Devemos elogiar nosso país pelas suas vitórias. Mas também devemos criticá-lo pelos seus problemas. A luz do nacionalismo, que por muito tempo foi nutrida por várias nações, ofusca a criticidade da própria população. Felizmente, o Brasil não é o melhor ou o pior país do mundo. Temos muitas músicas, muitas praias, muita gente feliz e hospitaleira, muita água, muitas etnias, muitas religiões, muitos sonhos. Mas também temos poucas oportunidades, pouca saúde, pouca educação, pouca representação política, pouca igualdade entre brancos e negros, católicos e umbandistas, hetero e homossexuais, mulheres e homens. Devemos comemorar nossas “medalhas de ouro”, tentar melhorar as de “prata e bronze”. Mas, antes de tudo, temos que analisar o que está ruim para melhorarmos, porque só assim poderemos ganhar mais “medalhas e vitórias”, além das do esporte.

Julia Castello Goulart

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