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A insustentável crença de ser

O ano de 2016 está sendo marcado por atentados terroristas em muitos países...

Julia Castello Goulart
Publicado em 03/08/2016 às 19:32Atualizado em 16/12/2022 às 17:53
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O ano de 2016 está sendo marcado por atentados terroristas em muitos países. Não só na Europa, mas na África e na Ásia, que também sofrem com esses ataques. Vejo as pessoas pedindo paz e amor no mundo. Uns culpam os imigrantes, outros, os países “neoimperialistas” de não agirem. Mas poucos realmente comentam sobre a influência que a religião, ideologias e preconceitos têm sobre todos nós.

A religião, por exemplo, sempre teve a função importante de explicar tudo aquilo que o ser humano não conhecia. Desde Deuses na Grécia Antiga, que explicavam por que se chovia, até os santos da Igreja Católica, que explicavam curas misteriosas. Mas ela também pode servir para preencher nossos vazios e sofrimentos e talvez, se permitirmos, se tornar algo alienável e perigoso. 

Sempre tive a curiosidade de entender como formamos a nossa identidade, como nos tornamos cada um de nós. Lacan (psicanalista francês, pós-freudiano) explica que uma criança se forma através de como é vista pelos olhos dos outros. Metaforicamente, ele se enxerga através do seu reflexo no espelho. E que, apesar de imaginarmos que possuímos uma única identidade (“somos isso e não aquilo”), isso tudo não passa de uma ilusão, já que nós temos a necessidade de nos sentirmos inteiros e completos. Mas, na verdade, o ser humano não possui uma única identidade, é incompleto e possui vazios existenciais.

Talvez sejam as incertezas do ser humano, a permanência de nunca estar completo, que fazem o ser humano crer. Sim, existem os que não creem, mas eles se apegam em outras coisas, como nas explicações da ciência, por exemplo. Não é à toa que, com a evolução, o ser humano criou algo e foi aos poucos criando o mundo em que vivemos. Buscamos sempre mais explicações ao mundo à nossa volta, pois, de certa forma, isso nos aproxima daquelas perguntas que nos angustiam: “por que estou aqui?” “Para onde vou?” “Quem sou eu?”.

A religião, de certa forma, possibilita acreditar em algo e preencher vazios dentro de nós, talvez essa nossa busca incansável por uma identidade. Mas o problema é que muitas vezes a religião pode cegar... E como querer descobrir o mundo à nossa volta, de olhos fechados? A religião pode levar ao extremismo e ir contra nós próprios, pois ela pode ser a fagulha necessária para a intolerância, para a repressão, para as mortes, para o sofrimento... Ela pode servir de argumento para matar e para morrer. A religião não deveria nos barrar para crescer emocionalmente, por buscar novas experiências e novos caminhos. Se o ser humano é inconstante e incompleto, por mais que nos iludimos que não, não podemos viver presos em dogmas, em certezas, em crenças. Acredite, se você acredita. Mas não corte suas asas, pois o ser humano precisa voar para o seu vazio interior e, às vezes, buscar novos “eus”.

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