ARTICULISTAS

O mestre e a viagem

Em um bate-papo com Tharsis Bastos sobre a política atual...

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 25/07/2016 às 08:22Atualizado em 16/12/2022 às 17:59
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Em um bate-papo com Tharsis Bastos, no Empório Bahamas, sobre a política atual, escutei deste articulador este relat

Morava em outro bairro, um conselheiro que, quando o conheci, já tinha cabelos e barba muito brancos. Chamei-o de Mestre. Só isso, Mestre, e disse:

- Vim aqui me aconselhar com o senhor Mestre, porque me encontro numa “sinuca de bico”...

Fiquei com receio que ele me perguntasse o que é uma “sinuca de bico”, mas, ele apenas assentiu, calmamente e pediu que eu prosseguisse.

- Estou me preparando para fazer uma longa viagem e, nos tempos difíceis de hoje, não tenho recursos para pagar uma empresa de segurança para vigiar minha casa. Como minha viagem é longa, eu vou precisar de alguém para manter a casa limpa, cuidar da correspondência... Ele me interrompeu, perguntando quanto tempo eu ficaria fora.

- Olha, Mestre, será por quatro anos... Como faz tempo que moro naquele local, pensei pedir a um de meus vizinhos que fizesse isso por mim. E é aí que eu preciso que o senhor me aconselhe: como irei saber qual o melhor vizinho para eu deixar com ele a chave de minha casa? Já selecionei quatro vizinhos a quem eu poderia pedir isso, mas não estou seguro quanto à minha escolha.

O Mestre então me pediu que falasse um pouco de cada vizinho, dando detalhes de suas personalidades, o que eu julgava de bom ou ruim em cada escolha.

Pus-me a falar do jovem, que mora em frente à minha casa. É muito estudado, bastante instruído, porém, ele é muito verde e inexperiente para assumir tal responsabilidade. Falei também do agradável vizinho da esquina, simpático, boa-gente, falante e risonho, mas apenas isso. Não levaria a sério cuidar de minha casa.

O terceiro vizinho, muito dinâmico, ágil, veloz de raciocínio e bastante agressivo na forma de ser. Pena que viaja muito e me explicou que teria que utilizar sua esposa para vigiar a casa. Não me senti seguro quanto a isto.

- Como o senhor vê, estou realmente numa enrascada!

O Mestre então me perguntou sobre o quarto vizinho...

- Ah Mestre, este acho que não terá jeito. Ele já me prestou este favor anteriormente, zelando de minha casa e fico constrangido de pedir de novo. Embora seja um sujeito absolutamente íntegro e trabalhador e mesmo não sendo, parece um tanto “paradão”. Sua profunda humildade não contribui em nada para mudar essa aparência.

O Mestre apontou o dedo para mim: - Pois é este a quem você deve confiar sua casa! E explicou: - Você falou em correção e integridade. Isso vale ouro no mundo de hoje! Além disso, ser humilde não significa ser “paradão”, talvez você esteja um pouco preconceituoso quanto a isto. E, finalmente, ele já prestou serviço para você e, pelo visto só melhorou, não prejudicou você em nada. Meu filho, milhares de anos atrás o ser humano inventou a roda. Faça sua longa viagem em paz e não queira inventá-la de novo!

 

Marco Antônio de Figueiredo – articulista e advogado

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