Às 21h55min do dia 03/07/2016 recebi a triste notícia do passamento do amigo e ex-prefeito...
Às 21h55min do dia 03/07/2016 recebi a triste notícia do passamento do amigo e ex-prefeito de Uberaba, Dr. Hugo Rodrigues da Cunha. Para mim iniciou ali o fim da geração dos políticos irrepreensíveis.
Num estalo me recordei de certo episódio que redirecionou minha vida: numa fria manhã de 1976, um caminhão da Prefeitura carregado com areia ao tentar subir a rua Dr. Ferreira, engasgou e o motorista o segurou no câmbio. Desci do meu carro, abracei uma pesada pedra tapiocanga e com ela calcei uma das rodas do bruto. Perigo afastado me dirigi à casa de Hugo, que estava próxima, para informá-lo. Ele e Naná me receberam, ficaram gratos e com os dois tomei café. Adroaldo Esperidião, chefe do setor competente, foi acionado e tudo ficou resolvido.
Daquele dia em diante Hugo jamais me perdeu de vista. Depois nomeou-me diretor do Estádio Engenheiro João Guido. E eu, como tributo, sempre o tive como minha referência e reforcei meus conceitos de como se deve tratar a coisa pública. Ouvi dele que o filho Hélio ao chegar com o carro da fazenda, tentou lavá-lo em algum posto e não conseguiu. A solução foi levar o veículo ao depósito da Prefeitura e fazer a lavagem. Hugo, ao saber, ordenou que o filho recolhesse aos cofres públicos o valor correspondente à lavação do automóvel. Gesto simples, mas honroso.
Hugo foi grande amigo da Logosofia e ficava à vontade quando discorria sobre qualquer tema a ela correlato. Tinha a sensibilidade aflorada, tanto que depois da partida de sua querida Naná, preservou fielmente em sua residência, todos os objetos usados por ela. E não fazia segredo disso.
Acompanhei o drama de Hugo quando a Cia. Cinematográfica São Luiz e o Grande Hotel rumavam para o declínio. Quanto sofreu depois que a empresa recebeu proposta de um grupo empresarial para assumir o cinema e o hotel. Após assembleia dos sócios ele teve de responder aos pretendentes, super a contragosto, que a oferta era vil. Resultad não alugaram o acervo, não o venderam a terceiros e faleceu sem vê-lo reerguido. Prestei-lhe assessoria e avaliei o Cine Vera Cruz que depois foi vendido à Prefeitura. A utilização atual daquele bem-imóvel lhe agradava muitíssimo.
Feliz é o homem que pode andar a pé por sua cidade e as pessoas fazê-lo gastar uma hora ou mais para vencer um quarteirão. Feliz é o homem que ao dar adeus, passa pelas ruas de sua terra em carro aberto e todos lhe reverenciam, inclusive os opositores políticos: “Ali vai um homem com H maiúsculo”. Esse é Hugo Rodrigues da Cunha diante da sua querida Uberaba.
A força verbal, baseada no exemplo, é um dos fatores que imortalizam o ser humano. Hugo tinha essa força e nos deixa valioso legado. Ele pode não ter juntado fortuna pelo que fez, mas construiu um tesouro inalienável por muita coisa que não fez...