O ataque ocorrido em Orlando no domingo passado, pelas circunstâncias em que se deu, por mais horrendo que tenha sido, recomenda-nos a não ceder à chantagem do Estado Islâmico, da Al-Qaeda ou de qualquer outra organização que procure atemorizar o mundo valendo-se do prestígio do Islã. Foi o que ocorreu em Paris, em Bruxelas, com o risco de poder ser renovado, inclusive, no Brasil durante as Olimpíadas de agosto vindouro.
Em viagens que fiz a Miami, conheci descendentes de exilados cubanos, convivi com imigrantes haitianos, sem que me sentisse amedrontado, nem mesmo em Nova Iorque, cidade mais multicultural que Miami. A tolerância da Suprema Corte, há um ano, declarando constitucional o casamento de homossexuais, não concorreu para que a sua população fosse tomada de pânico quanto às consequências dessa decisão, que repercutiu em todos os continentes.
Certo de que o conservadorismo ainda subsiste em alguns estados da Federação. Em Arkansas, onde nasceu Bill Clinton, ex-Presidente sulista e progressista, ainda vigora a lei seca.
A sua esposa, Hillary, talvez mais brilhante que o marido, manifestou-se comedidamente quanto ao funesto episódio, contrapondo-se a Donald Trump, sem assumir uma posição ortodoxa que importasse na vedação radical à entrada de muçulmanos no país. Para ela, este sim deve ser o verdadeiro espírito americano, que Barack Obama encarnou, ao longo de oito anos, como o primeiro negro, filho de um queniano, a assumir a Casa Branca.
O candidato oposicionista, diante do acontecido, reforçou a proposta de vetar muçulmanos nos Estados Unidos, onde representam 1% da população.
Em dezembro passado, quando um casal de simpatizantes do EI matou 14 pessoas na Califórnia, em São Bernardino, a sugestão de Trump concorreu para a sua elevação nas pesquisas.
Por sua vez, Hillary voltou a defender o controle de armas, embora haja uma disparada nas vendas nas lojas especializadas nestas ocasiões, com os apreciadores de armamentos se antecipando a eventuais restrições à violência armada.
Não menos significativo foi o fato de a Bolsa de Nova Iorque, após o ataque de Orlando, haver fechado na segunda-feira, 13, com alta nas ações de fabricantes de armas do país.
Segundo noticiaram as agências internacionais, a chacina foi praticada por um filho de afegão, que matou cinquenta pessoas e feriu outro tanto. Com a atrocidade perpetrada, Omar Mateen optou pelo Estado Islâmico ao sonho americano. Entrará para a história, tristemente, como o autor do pior atentado havido na pátria onde nasceu depois do 11 de setembro de 2001.
Foi o que ocorreu alguns dias após a nação haver se despedido, em lágrimas, de Muhammad Ali (que se chamava Cassius Clay), herói nacional e muçulmano, oriundo de Kentucky.
Trump, com o seu fanatismo desmedido, procurou tirar partido do flagelo, vindo logo a público reiterar sua repulsa à presença estrangeira: “Viram, eu bem avisei”. Diante deste pronunciamento, a sua eleição em novembro, se concretizada, embora repelida por expressiva parcela republicana, importará numa fatalidade incomensurável para a paz mundial.
Daí a consideração feita pela Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação dos Estados Unidos: “Às vezes, Trump se mostra como Hugo Chávez, mas falando inglês”.
(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do iamg, presidente da AMLJ
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