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Pingos nos is

Faz bem tempo vi o filme Alguém lá em cima gosta de mim, com Georges Burns fazendo o papel de Deus...

Padre Prata
Publicado em 26/06/2016 às 12:11Atualizado em 16/12/2022 às 18:20
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Faz bem tempo vi o filme “Alguém lá em cima gosta de mim”, com Georges Burns fazendo o papel de Deus. Ele aparece a um gerente de supermercado para convencê-lo de que nem tudo está perdido. É uma comédia de alta categoria. Os diálogos entre Deus e o gerente são muito inteligentes. Num deles, Deus confessa que fez muitas coisas erradas, entre elas a semente do abacate, que não precisava ser tão grande.

Aparentemente, há muita coisa errada na Natureza (estou dizendo “aparentemente”). Coisas enormes e sem serventia, pelo menos que eu saiba. A jaca, por exemplo, fruta (?) com mais de dez quilos. Ninguém come. Cai do pé, se esborracha e apodrece. Lá no pantanal, há um peixe chamado armal ou abotoado. Ninguém come. É grande, com uma carapaça de dar medo. Além de tudo, fede. Só serve para encher a paciência do pescador. Outro exemplo é o canguru, desengonçado, com aquelas patinhas dianteiras sem serventia, locomove-se aos pulos e metido a boxeador. Tem-se a impressão de que a evolução dos seres vivos andou fazendo experiências que não deram certo. Um malogro.

Por outro lado, há uma grande valorização de coisas pequenas. Um neurônio, por exemplo. É invisível a olho nu, mas você não viveria sem as informações que eles guardam. Dizem até que os melhores perfumes estão em frascos pequenos. Os venenos também, mas isto não vem ao caso.

Lendo uma revista, descobri o valor oculto da letra “i”. Aliás, é coisa antiga, milenar. Jesus, por exemplo, serviu-se dessa letra para revelar sua missã “Até que o mundo acabe, não será omitido um só i, uma só vírgula da Lei”. Penso que Jesus estava se referindo à lei do amor a Deus e ao próximo, porque, no resto, muita coisa foi mudando com o tempo.

O i tem um parente, o jota, que na verdade é iota. Este, por sua vez, virou consoante. Ignoro as razões. Apareceu também o ipsilon, estranho forasteiro vindo lá da Grécia. Andou aqui por pouco tempo e foi enviado de volta. Agora voltou pra ficar. Letra inútil. Yolanda ou Iolanda dá no mesmo. Tive um professor de português que pronunciava ipsilone, acho que de raiva.

Outro professor meu, na quarta série, no fim de uma dissertação minha, acrescentou, com tinta vermelha, que eu devia pingar os is. Descontou dois pontos na nota.

Há um provérbio que diz: “Para quem sabe ler, um pingo é letra”. Isto é, para os inteligentes não é preciso dizer muito. Daí se conclui que, orador ou pregador que fala muito, pensa que o auditório é ignorante. Pior é que há muito desse tipo de gente desovando falação por aí.

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