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Festejando o ensino de São João

Chegou junho. Momento de festa e alegria...

Wagner Dias Ferreira
Publicado em 20/06/2016 às 09:52Atualizado em 16/12/2022 às 18:24
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Chegou junho. Momento de festa e alegria. Que pode ser aproveitado para uma reflexão e aperfeiçoamento da coerência entre discurso e atitude. Recentemente, iniciou a transmissão de uma novela com uma história ficcional abordando a saga dos inconfidentes de Minas. Já no primeiro episódio é mostrada a cena do enforcamento de Tiradentes. Uma voz que foi colocada só, mas que ressoa até hoje, porque chancelou suas palavras com a própria vida.

No mês de junho, a cultura brasileira comemora Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho). A festa em todo esse período de junho é absorvida no nome de um único santo, o São João. Em Caruaru/PE, e Campina Grande/PB, que disputam pelo “maior São João do Mundo” e por todo o sertão nordestino, a festa do mês inteiro é chamada apenas de São João.

João Batista, o homem que originou o santo da Festa de 24 de junho, era uma voz que foi colocada só, no deserto, à semelhança de um caniço agitado pelo vento. Tem ainda o som de sua voz até hoje confrontando as pessoas. Muitos pensam que ele somente denunciou os abusos do rei Herodes, o que levou à sua decapitação. Mas João Batista também denunciou os comportamentos de pessoas comuns. No livro O Evangelho de Lucas, há breves, mas significativos registros sobre os ensinamentos de João Batista, onde ele denuncia atos de pessoas comuns que precisam ser modificados.

Em Lucas se pode ler: “E uns soldados o interrogaram também, dizend E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.” (Lucas 3, 14). Vemos aí um ensino para o cotidiano que remete ao campo do Direito, onde ao falar a agentes de segurança pública traz o discurso da coerência e da honestidade, que no atual dia a dia comum do povo brasileiro está tão caro, considerando “Lava Jato” e outros procedimentos polêmicos que temos vivido no campo da democracia brasileira.

Por isso, no mês de junho, festejar São João é muito bom, mas refletir sobre seu ensino é melhor. Parar, pensar em atos comuns do dia a dia e tomar decisões que permitam direcionar a vida sempre melhorando o ambiente em que vivemos é imprescindível.

Muitos de nós, pessoas comuns, ao proclamarmos as palavras de melhoria do ambiente à nossa volta, denunciando os comportamentos inadequados daqueles que estão em derredor, seremos constrangidos e sofreremos consequências em tentativas de calar, mas podemos e devemos, como Tiradentes e João Batista, insistir em falar.

Estas palavras que nós podemos e devemos falar no dia a dia para que aquilo que ocorre irregularmente perto de nós não passe sem denúncia podem não ressoar na história com a força das palavras de Tiradentes e João Batista, exigindo a chancela de uma vida. Mas, certamente, irão ressoar no cotidiano, exigindo a chancela de uma atitude coerente com o discurso. Festejemos o São João, lembremos o Tiradentes e sejamos coerentes.

Wagner Dias Ferreira

Advogado e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

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