Os internautas de plantão receberam há alguns dias atrás um vídeo amador, com autor...
Os internautas de plantão receberam há alguns dias atrás um vídeo amador, com autor devidamente identificado, “denunciando” a utilização de falcatruas até na escolha de pessoas para carregar a tocha olímpica.
Segundo o narrador do fato, a irregularidade divulgada estava no flagrante de um cadeirante caindo de uma cadeira de rodas e se levantando sem a esperada dificuldade. Sua indignação era convincente e contagiante, bem à base do “vi com os meus olhos que a terra há de comer”.
O fato em questão ocorreu no período em que estávamos todos abalados com as falcatruas descortinadas no cenário político do país e fazendo com que, sem nenhuma necessidade de reflexão e por livre associação, o associasse às demais esferas da vida nacional.
Passados alguns dias, numa manhã em que caminhava no piscinão com meu “personal”, comentei o fato com ele, que, depois de me ouvir atentamente, deu-me uma aula de cultura geral.
Em sua competente explanação, própria de quem fez sua monografia do Curso de Especialização em Educação Física sobre o Basquete em Cadeira de Rodas, explicou-me que o rapaz do vídeo estava numa cadeira específica para esse tipo de esporte. Depois esclareceu o que para mim foi uma grande novidade e que penso também o será para os leitores: não é necessário que se seja paraplégico para se tornar atleta nesta modalidade e, por isso, são várias as situações que podem levar alguém a praticá-lo sem se enquadrar nesta condição.
Admito que me senti muito envergonhada. Primeiro, por minha ignorância na área; segundo, por ter acreditado tão inocentemente no que vi e ouvi, e terceiro, por julgar o fato de acordo com minha miopia.
Reportei-me a uma brincadeira de minha infância e adolescência que se chamava Fato ou Boato e que consistia em desfiar uma lista de situações envolvendo os elementos de um grupo. Ela era mais ou menos assim: “que fulana gosta do fulano é fato, mas que ele gosta dela, é boato...”
Analisando nossos erros à luz da ótica adulta, lembrei-me de um texto chamado “Os cegos e o elefante”, que prometo apresentar no próximo artigo, mas, enquanto isso, convido os leitores a uma reflexão sobre os muitos julgamentos e enganos que cometemos sem o devido conhecimento dos fatos, fazendo com que nos tornemos injustos com pessoas totalmente inocentes do que são acusadas...