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Coletores de lixo

Coletor de lixo é um maratonista bem-humorado que, com perícia, agilidade e pontaria...

Mário Salvador
Publicado em 14/06/2016 às 19:33Atualizado em 16/12/2022 às 02:53
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Coletor de lixo é um maratonista bem-humorado que, com perícia, agilidade e pontaria, pega o lixo e o joga na caçamba do caminhão. Esse caminhão, próprio para coleta, só para de fato onde há muito lixo. Enquanto, no Brasil, são os coletores que, antecipando-se à passagem do caminhão, juntam os sacos de lixo em certos pontos da rua, os habitantes de países ricos levam o lixo às caçambas, que têm seus pontos fixos; exemplo a seguirmos.

Em Uberaba, a coleta de lixo, de segunda a sábado, inclui dia santo, feriado e pontos facultativos e independe de tempo quente, frio e chuva. É muito serviço, que, se não fosse feito, geraria transtornos para a população. Com coleta três noites por semana, no bairro onde moro o saco de lixo pode ser colocado na rua só após as 17 horas, uma exigência da Prefeitura para minimizar o risco de contaminação e evitar que animais ou intempéries espalhem sujeira, que também acaba entupindo bueiros.

Quem não tinha cuidado com o descarte do lixo, quando ainda se usava lata de metal, reutilizável, ficava com ela amassada, pois, só batendo-a no caminhão, seu conteúdo era liberado. Recolocada na calçada, era recolhida pelo dono. Vira-lata buscava comida no lixo; se fosse feita uma adequação do nome do animalzinho, hoje seria puxa-saco.

Inalamos por minutos o odor que recende após a passagem do caminhão nas ruas, mas coletores o fazem durante todo o tempo. E, na segunda-feira, recolhem o lixo acumulado no fim de semana, o que pode significar uma situação ainda pior.

Na época do Natal, no envelope que entregam aos moradores das ruas nas quais trabalham, coletores solicitam uma oferta – ótima oportunidade de lhes oferecermos generoso sinal de incentivo e agradecimento, afinal não viveríamos dignamente sem o serviço que realizam: sem coleta, qualquer cidade é um lixo. Mas ninguém parece se lembrar deles quando destacados profissionais da cidade recebem homenagens e medalhas: coletores parecem invisíveis. Se às vezes fazem greve, é por melhores vencimentos. É como se não fossem lembrados, se não lutassem pelo que já deveria ser deles por direito.

Dia do Coletor de Lixo (16 de maio), que é ainda o Dia do Gari, foi instituído na Guanabara em 1962 e, nacionalmente, em 2011. E é também gari aquele profissional que varre as ruas – outro profissional que merece capítulo à parte. O nome gari veio do de Pedro Aleixo Gari, francês cuja empresa foi contratada (1876) para recolher lixo das ruas do Rio.

Conhecer os coletores, chamá-los pelo nome, cumprimentá-los (eles estando ou não em serviço), expressar-lhes agradecimento, conhecer suas necessidades e aspirações, respeitá-los em seu trabalho (para citar apenas um exemplo, envolvendo em grossa camada de jornal o objeto pontiagudo ou cortante a ser descartado), é o mínimo que temos a fazer – não só por serem obrigações nossas como cidadãos, mas como demonstração de ética, civilidade, educação e respeito.

Coletores de lixo são verdadeiros heróis; não podem ser invisíveis. Precisamos reconhecê-los como merecem. (Com essa atitude, mostraremos quem somos e quão educados somos.) Com a difícil missão de nos salvarem da sujeira que produzimos, executam um trabalho do qual dependemos e que muitos de nós jamais conseguiríamos fazer. Vida longa, feliz e digna a todos eles!

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