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Mortais

Hoje vou falar de impermanência, finitude e envelhecimento, inspirada no livro Mortais...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 12/06/2016 às 12:55Atualizado em 16/12/2022 às 18:30
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Hoje vou falar de impermanência, finitude e envelhecimento, inspirada no livro “Mortais”, de Atul Gawande, que acabo de ler. Desde que nascemos, a curva da vida se torna um longo e lento desvanecer. Até nosso cérebro encolhe. Aos 30 anos o cérebro é um órgão de quase 1kg e meio que mal cabe dentro do crânio; aos 60, a perda de massa cinzenta deixa um espaço livre de quase 2,5cm e, por isso, temos que tomar cuidado com as quedas em idosos. Os seres humanos falham, da mesma maneira que os sistemas complexos: aleatória e gradualmente. Quando nos damos conta, estamos velhos. E a velhice chega trazendo consigo uma série de limitações, inadmissíveis nos anos de juventude. Tornamo-nos frágeis e dependentes. Dependentes de cuidadores, de medicamentos, de assistência médica, de óculos, de bengala, andadores, barras de apoio e de atenção. Perdemos o que há de mais precioso na vida que é a capacidade de decidir sozinhos. Deixamos de ser os senhores dos nossos destinos. Vamos perdendo a memória, nos fragilizando a olhos vistos e mudando de perspectivas. Os idosos passam a demandar cada vez mais dedicação e paciência dos que estão à sua volta, embora estes sejam atributos em falta no mercado da vida. Vestir um idoso é mais rápido que deixá-lo vestir-se sozinho, mas isso faz toda a diferença para sua autoestima. Em nome da pressa e do acúmulo de afazeres, subtraímos dos velhos a pouca autonomia que ainda lhes resta. Tirar o idoso de sua zona de conforto e não deixá-lo decidir pequenas coisas do dia-a-dia é cruel e faz da velhice um fardo ainda mais pesado do que já é.

O Brasil conta hoje com 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que, desses, 90% sofrem de alguma doença crônica, como hipertensão arterial, diabetes, câncer, Alzheimer e outras. Segundo projeções, em 2050 serão 65 milhões de idosos no país. A situação é preocupante. Manter um idoso custa caro e nem todos contam com uma aposentadoria ou pensão capaz de suportar todos os gastos, em especial os com remédios e cuidadores. As casas de acolhida e asilos carecem de recursos suficientes por falta de repasses do Poder Público, compatíveis com as necessidades de manutenção e, via de regra, em atraso. O Sistema Previdenciário acumula déficits consideráveis e corre o sério risco de um colapso total.

O que fazer? Como só temos duas alternativas na vida - morrer jovem ou envelhecer -, é importante parar para pensar enquanto é tempo. Planejar da melhor forma nossa velhice, sendo prudentes hoje, poupando, fazendo o bem e nos preparando. Além, é claro, de exigir que os governos encarem de verdade o imbróglio que se tornou a tão falada reforma da Previdência. Não dá mais para esperar.

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