ARTICULISTAS

Onde está a saída?

Conta uma fábula de La Fontaine que, estando enfermo em seu antro, o leão...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 29/05/2016 às 12:50Atualizado em 16/12/2022 às 18:42
Compartilhar

Conta uma fábula de La Fontaine que, estando enfermo em seu antro, o leão, rei dos animais, mandou chamar todos os outros para visitá-lo, e que fossem em comitiva. Cada espécie animal levou sua delegação, inclusive as raposas. Porém, a chefe das mesmas, ao chegar perto da cova real, notou que só havia pegadas de animais se dirigindo para a caverna, mas não havia pegadas de volta. Mais que depressa, comandou o grupo em retirada. Sábia raposa, nos dando a lição de que nunca devemos nos meter em alguma coisa sem ver bem qual a saída.

Acho fantástica essa filosofia de vida, que tão poucos aplicam na prática. Viver é correr riscos. Entramos em várias empreitadas no decorrer de nossas vidas, mas o aconselhável é que, sempre ao passar por uma porta, verifiquemos imediatamente onde está a saída. No entusiasmo do começo, a visão do futuro nos escapa e as consequências de decisões impulsivas são, muitas vezes, desastrosas. Meu pai me dizia: “Escolhe um bom moço para casar porque se o casamento não der certo, ele, pelo menos, cuidará para que o rompimento seja amigável e justo”. Já me abria os olhos para enxergar a saída. Nessa linha se encaixa tudo que decidimos fazer. Comprar um carro sem avaliar se conseguiremos arcar com o custo do combustível, IPVA, manutenções, etc., é entrar num beco sem saída. Adquirir um apartamento sem considerar a taxa de condomínio é arriscado. Abrir empresa sem capital de giro ou conhecimento profundo do negócio é aventura que pode se tornar um problema. Os exemplos se sucedem para consolidar a tese de que nada dura para sempre e que precisamos estar preparados para o advir do acaso e possíveis reveses. Se calculamos antes os riscos, teremos antecipadamente pensado em uma saída viável.

No nosso querido Brasil, não se avaliou a possibilidade de tempos difíceis, com crise econômica cruel como a atual, endividamento e desemprego. Vendeu-se a ilusão de que tudo era possível, bastava liberar crédito e desonerar setores importantes para maquiar a situação real de um país em desenvolvimento, carente, antes de tudo, de reformas estruturais. Já dizia Maquiavel: “Não se pode dar o que não se pode tirar”. Deu no que deu.

Que nos sirva de lição. Vamos pensar mais antes de dar um voto a um candidato qualquer. Falar mais de política, participar de grupos de debate, conscientizar pessoas, formar cidadãos. Somos todos responsáveis. A época de ficar sentado no sofá assistindo novela e desdenhando daqueles que buscavam informações sobre o país acabou. A alienação é perversa e cobra um preço alto de todos. Nos deixamos embalar pela música da fartura e agora está difícil achar a saída.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por