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Tempo e Velhice e Maturidade

A velhice é tida como uma retomada, o contato com outras temporalidades...

Sandra de Sousa Batista Abud
Publicado em 26/05/2016 às 20:17Atualizado em 16/12/2022 às 18:44
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A velhice é tida como uma retomada, o contato com outras temporalidades, de onde se tira material para enriquecer a existência.

A velhice traz grande experiência de vida e sabedoria, acumulada pela vivência de décadas e conservada pela memória.

Todas as nossas experiências são temporais, medimos nossa vida pelo tempo gasto em atividades rotineiras, pela passagem dos dias e meses. A temporalidade é o caráter mais geral dos fatos psíquicos. Por possuirmos um passado, que nos propicia uma reação riquíssima de experiências acumuladas, por vivermos num presente que sempre está mudando e em vista de um porvir que se prepara em cada experiência nossa é que podemos dizer que nossa existência é temporal.

O tempo passa, e é por essa sua incessante passagem que pautamos a vida. O presente é consequência do passado, e o futuro, a consequência do presente. E a maturidade? Consequência da vivência do tempo vivido.

Passado e futuro por vezes podem se confundir, e os limites do presente, antes tão rígidos e bem traçados, podem se enfraquecer e facilmente se flexibilizar. Sendo assim, passado e porvir reclamam uma nova fundamentação conceitual. Como pensar ainda em um horizonte de experiências latentes, que estão para se desenrolar, e numa coleção de fatos e episódios já sedimentados em nossa memória? Toda lembrança ou recordação, ao ser rememorada, é retomada a partir de nossa situação no presente; todo futuro é antecipado e preparado, também, a partir de nossa experiência atual. O passado é reaberto e o porvir é formulado na situação presente, concreta, no contato atual com o mundo. O ato de relembrar torna a lembrança parte do presente e desconstrói a linearidade da noção de passagem de tempo.

O presente não é a única dimensão do tempo, é aquela onde o tempo ganha significação. O tempo nasce de nossa relação com o mundo.

Para viver o tempo, o sujeito precisa situar-se no mundo, existindo nele, subjetivamente.

O tempo vai se fazendo, desenrolando-se, enovelando as suas experiências passadas e seus horizontes futuros, reunindo, na imanência do presente, a memória e o devir. Vivemos no tempo e interpretamos a vida segundo o tempo.

A velhice não é a trágica etapa final, é uma retomada. É a vivência da maturidade, onde experimentamos o contato com outras temporalidades, com outras durações. Com a sabedoria da maturidade, aprendemos a reavaliar convicções e princípios, reaprendemos a perceber a vida a partir de outras perspectivas, enfim, a partir do outro.

A velhice e a maturidade são o verdadeiro terreno da sabedoria, pois só com o aprendizado do tempo é que se enriquece a existência.

(*) Psicóloga Clínica

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