Acesa com pompa e requinte, a tocha olímpica já está percorrendo o Brasil. Uns meses antes de cada Olimpíada, por tradição, a tocha é ateada em Olímpia, na Grécia, e segue transportada por atletas até entrar no estádio onde se realizarão os jogos, neste ano, na cidade do Rio de Janeiro. A chama olímpica é um dos símbolos dos jogos olímpicos e evoca a lenda de Prometeu, que roubou o fogo de Zeus para entregar aos mortais. Brasileiros de várias cidades vão ter a oportunidade de ver - e alguns até segurar - a tocha olímpica. Tudo lindo, simbólico, emocionante.
Voltemos no tempo. Lembro-me do discurso inflamado do ex-presidente Lula defendendo a realização da Copa do Mundo no Brasil, mesmo depois de termos sido contemplados com as Olimpíadas. Parecíamos aos olhos do mundo um país rico, sem problemas estruturais e prontos para sediar dois eventos tão dispendiosos, sob qualquer ponto de vista. Suando, acenando e chorando, ele pintou um quadro vitorioso, um país hospitaleiro e preparado, que comoveu o mundo e nos fez ganhar a disputa. Primeiro foi a Copa, agora os Jogos Olímpicos.
Passada a euforia, a verdade se impôs, como sempre o faz. Nós, os brasileiros, fomos usados para satisfazer a vaidade e o projeto político de um presidente, conferindo-lhe uma aura de poder quase absoluto. Ele tudo podia. Estádios foram erguidos e agora sabemos, com valores superfaturados, permitindo desvios de vultosos recursos para fins partidários e enriquecimentos ilícitos. Na cidade maravilhosa foi construída uma ciclovia de forma tão mal planejada e açodada, que não resistiu a uma onda gigante, caindo uma parte e ceifando vidas e sonhos. Mas o que isso importa para eles? Que se danem a saúde pública e suas filas barulhentas! Que se conformem os desempregados com a situação caótica do país. Que se enterrem as vítimas da violência, sem alarde. Que se resignem os contribuintes com a alta carga tributária e seu retorno inexistente. O governo do PT deu o circo, para que reclamarem do pão? Nossos atletas nem sempre dispõem de patrocínio para treinar, mas sorria, vamos sediar uma Olimpíada, reflexo de atitudes inconsequentes e hipocrisia ilimitada.
No encerramento dos Jogos Olímpicos de verão de 1932, foi apresentada uma citação de Pierre de Coubertin que dizia: “Que a tocha olímpica siga o seu curso através dos tempos para o bem da humanidade, cada vez mais ardente, corajosa e pura”. Espero que essa tocha que percorre nosso país ilumine os corações dos nossos mandatários, atuais e futuros, concedendo-lhes mais solidariedade humana e menos, muito menos, vaidade.
