A atuação humanista dos Frades e Irmãs Dominicanas tem sido marcante na formação de inúmeras gerações. No âmbito educacional, registros valiosos revelam o perfil de educadores que se formaram na Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino, instituição fundada e administrada pelas Irmãs Dominicanas de 1948 a 1980. O legado da FISTA é expresso no depoimento de uma ex-aluna, ex-professora e hoje, escritora de renome internacional, Vânia Maria Resende: “As lembranças marcantes são muitas, remetendo-nos do espaço físico - cheio de verde, de natureza e de vida, favorável à proximidade entre pessoas - a dimensão educativa e cultural. Tudo integrado ao perfil humanístico embasado nas abordagens, reflexões e condutas no âmbito da sala de aula, no desenvolvimento das diversas disciplinas. O saldo que tenho dos sete anos que participei como professora do curso de Letras, na FISTA, é de um tempo muito bem vivido, na perspectiva de um projeto de educação e cultura andaram juntas. Tempo vivido em profundidade, com a viva e comprometida participação dos alunos e dos professores. Tenho registros valiosos, na memória, de experiências de montagens de peças, como “Morte e vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto e outras peças infantis de Maria Clara Machado; festivais e recitais; concursos literários, com premiações e publicações de livros, como as antologias infanto-juvenis “Vinícius de Morais”; semanas culturais e pedagógicas; encontro com escritores. Desde os anos de estudante no Curso de Letras o clima de participação cultural era evidente e intenso. Entrega total a pesquisa e leituras que nos levavam a passar noites estudando. A expressão “sedução antropológica”, de sentido aprofundado por Monsenhor Juvenal Arduini em um artigo publicado no Jornal da Manhã, me vale, nesta situação, como síntese do comportamento e da mentalidade do período de educação na FISTA. Éramos seduzidos pelas ideias, nos encantávamos com os professores capazes de nos provocar em termos intelectuais e afetivos; os olhos brilhavam diante da expressão de mentes vibrantes, aptas a contagiar pelo essencial. As lembranças do ambiente de trabalho eram cordiais e acolhedoras. Na disciplina de literatura que eu ministrei, o sistema de avaliação foi coerente com a natureza do universo de uma linguagem aberta, sujeita a interações subjetivas, a discussões. Nos momentos de debates dava se a troca e o compartilhar de vozes sobre uma obra e um autor lidos e analisados. A sala disposta em círculo, arranjada para tais debates, era o sinal mais perfeito da busca de integração e abertura na busca da formação da consciência crítica, participativa e democrática. Há uma marca de humanidade inscrita em muitas pessoas atuantes ontem e hoje não só em Uberaba, mas em outras cidades brasileiras. São líderes em especial no campo educacional, mas também no do jornalismo, das artes, da pesquisa científica. Bem sucedidos como pessoas, porque tem um olhar de dentro sobre o mundo, o outro, o trabalho. Sonham, acreditam e fazem inspirados no modelo de sucesso do ser humano pelo que ele vale e cria, não puramente pelo que ele possa produzir de valor econômico e material. Essa concepção educacional de vertente filosófico, reflexiva e espiritual, não conformista, esse saber olhar para dentro, tendo como centro da percepção, os valores interiores, é um legado da formação humanista recebida das irmãs dominicanas”. Vânia Maria Resende é referência, nos cativa pelo testemunho, pelo ser da palavra. A palavra é o valor fundamental cultivado pelo educador.
