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Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas/ Do que as árvores novas, mais amigas...

Mário Salvador
Publicado em 03/05/2016 às 19:49Atualizado em 16/12/2022 às 19:03
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“Olha estas velhas árvores, mais belas/ Do que as árvores novas, mais amigas:/ Tanto mais belas quanto mais antigas,/ Vencedoras da idade e das procelas...” Árvores, no soneto do parnasiano Olavo Bilac, acolhem pássaros, fornecem sombra. E foi naqueles bons tempos que o poeta sugeriu envelhecermos rindo como o faziam as árvores fortes. Hoje, quando permitimos que elas sejam derrubadas ainda jovens, cortamos pela raiz todos os indiscutíveis benefícios que elas nos proporcionariam. 

Em Uberaba, um movimento luta contra a derrubada das árvores dos passeios e canteiros centrais da via pública. Essa derrubada acontece em nome do progresso, que exige trânsito rápido, com coletivos fluindo, livres das árvores que talvez os atrapalhassem, uma vingança instantânea contra o que a natureza levou décadas para fazer medrar. A administração pública promete compensar, plantando novas mudas de árvore, sem jamais cogitar numa subversão à ordem dos fatos, que seria primeiro plantar mudas e esperar crescerem e só depois cortar as árvores antigas.

Quintais, com árvores que produziam doces frutos – manga, jabuticaba, goiaba... -, deram lugar a árvores de cimento (as construções), cujos lucros constituem frutos sem a doçura daqueles antes degustados à sombra de frondosas copas.

Tendo duas mil árvores derrubadas por minuto, e reduzindo 0,5% por ano, a Amazônia Legal, “Pulmão do Mundo”, já perdeu dois bilhões e seiscentos milhões de árvores. O desmatamento de 2007 a 2015 foi de 4.754km2  (5% maior que o do período anterior equivalente). E um número de fiscais pequeno (comparado à vastidão da floresta) precisa dar conta da ilegalidade de ações de madeireiras locais.

Um caso jocoso mostra que esse problema é, na verdade, internacional: “Um repórter quis saber onde um lenhador, famoso pela destreza no corte de árvores com o machado, havia aprendido o ofício. “No deserto de Saara”- explicou o entrevistado. “Lá não há árvores” - contrapôs o repórter. “Foi isso o que aconteceu com o meu treinamento por lá” – finalizou o lenhador.

Se não agirmos, o Brasil será sempre o país do futur seu esplendor será eternamente uma ideia longínqua. Para mudar os fatos, cuidar da natureza tem que ser objetivo de todos, todos os dias. Ou, em pouco tempo, estaremos respirando areia de um deserto cruel. Ou, pior, o mundo estará abarrotado de belas construções e vias, porém não sobrará nele ser humano algum para (num trocadilho) desfrutar de tudo isso.

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