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Muros invisíveis

No decorrer da história muitos muros foram construídos tanto para proteger moradores dentro deles de ataques exteriores..

Julia Castello Goulart
Publicado em 02/05/2016 às 08:33Atualizado em 16/12/2022 às 19:03
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 Muros invisíveis

No decorrer da história muitos muros foram construídos tanto para proteger moradores dentro deles de ataques exteriores como para dividir povos, territórios. O mundo e principalmente quem presenciou sua queda nunca se esquecerá do muro de Berlim que dividiu, durante 28 anos, os alemães em orientais e ocidentais. Mesmo com a queda do muro de Berlim, muitas pessoas não acreditam que existam hoje, barreiras e muros que dividem fisicamente povos, pessoas, territórios, principalmente por acreditarem no alcance da tecnologia que veio para “destruir barreiras”. Será? Estranhamente, todos nós conhecemos o muro de Berlim, mas atualmente, nem todos conhecem e realmente se importam com o muro da Cisjordânia ou com o muro que separa os 

Estados Unidos do México, ou o muro que divide Coreia do Sul da Coreia do Norte, entre muitos outros.

Mas o que quero nos levar a pensar aqui é em relação aos muros invisíveis que não são construídos por pedras, mas utiliza-se o mesmo argumento para os muros físicos, de que servem para a proteção. Esses muros que nós construímos em volta de todos nós são erguidos por meio dos seguintes materiais: certezas, ideologias, preconceitos, dogmas, entre muitos outros. É utópico pensar que esses materiais não vieram da cultura, da família, do meio no qual estamos inseridos. Entretanto cabe a nós mesmos resolver o que fazer com eles. E o que fazemos na maior parte das vezes é construir esse muro ao nosso redor. Às vezes não percebemos o tão grave é essa construção e a reparação dele com os radicalismos e intolerâncias. O muro com certeza nos produz uma zona de conforto, mas nos impedem de olhar o que está de fora. De ouvir e respeitar o que é diferente.

Somos guiados a pensar que temos que saber e ter opinião sobre tudo. É vergonho falar que não sabemos de algo. Porque a tecnologia nos proporcionou saber de tudo com um clique. E pode ser usada realmente para o conhecimento. O problema que usamos frequentemente de uma maneira superficial e muitas vezes duvidosa. Mesmo assim, já é o suficiente para nos tornamos especialistas. Assim nosso muro é abastecido, com informações, opiniões que apenas reforçam as nossas certezas e não, que nos fazem duvidar. Já que nosso muro é forte, porque impede que entremos em contato com o diferente, mas ao mesmo tempo é frágil, porque qualquer opinião contrária que abala nossas certezas tememos que o muro desmorone.

Talvez seja por isso que quando abrimos uma brecha no muro para ouvir uma pessoa com pensamentos diferentes, nós transformamos o que era para ser argumento em frases de ódio. A discussão que poderia trazer para ambos os lados, dúvidas e a busca por novas respostas, se torna algo violento e intolerante. Por isso, talvez nos relacionamos mais facilmente com quem pensa e age como nós. Como nas redes sociais, não curtimos e compartilhamos o diferente. Nosso compartilhamento se restringe àquilo que consegue passar pelo duro filtro do nosso muro. A maior contradição que vivenciamos hoje é: Nunca vivemos em um mundo tão livre. Ainda assim, construímos entre nós muros ao invés de pontes.

(*) Julia Castello Goulart

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