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Medo do envelhecimento?

Conforme a visão dos índios americanos cherokees, uma pessoa tem quatro dons...

Sandra de Sousa Batista Abud
Publicado em 29/04/2016 às 20:01Atualizado em 16/12/2022 às 19:05
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Conforme a visão dos índios americanos cherokees, uma pessoa tem quatro dons a oferecer, na vida. O primeiro, marcado pelo sorriso da criança ao nascer, é o próprio fato de estar viva. O segundo, na adolescência, é a consciência e o desenvolvimento de seus talentos. O terceiro, quando presta serviços à família e à comunidade. O quarto é o momento em que a pessoa adquire a habilidade de transformar as coisas inadequadas e, através de sua compreensão e da consciência de sua própria força, traz harmonia à família e à sociedade. Essa fase ocorre por volta dos 51 anos, quando os cherokees consideram que a pessoa se tornou, finalmente, um adulto.

O tempo exerce sua ação sobre homens e mulheres, tudo e todos.

O corpo que envelhece flácido, que se cansa, que não é mais olhado com desejo, ilude, denuncia perda. O que fazer? A única saída é viver essa dor, porque só assim é possível encontrar a sabedoria do renascimento. Morre a criança, nasce o adolescente, nasce o adulto, morre o adolescente, nasce um ser humano experiente que pode tirar, de sua vivência, maneiras simples de trilhar caminhos menos desgastantes. Com o tempo, já não é mais possível fazer o que se fazia, comer o que se comia, dormir o que se dormia. Urge saber adaptar seu prazer às possibilidades do corpo.

O medo de envelhecer tem a ver com o medo do fim, com o terror da morte, observa a psicanalista Eveline Alperowitch, de São Paulo. E a morte se faz notar em todas as coisas que terminam, um trabalho, um filme, um jogo, e os finais trazem a possibilidade de um recomeço.

O envelhecimento é um processo inexorável. Com o avanço da medicina e da tecnologia, esse período foi retardado por algumas décadas. Na Europa, já se vive bem a quarta idade; há mulheres de 80 anos que andam de bicicleta e de bem com a vida. Assim, aos 40 anos, a mulher é um fruto maduro e tem mais 30 ou 40 anos de vida ativa à sua frente. Isso não vale para quem está fixada nos padrões de beleza e na inconsequência dos 20 anos. Uma mulher que não assume as mudanças da idade torna-se melancólica. É interessante notar o que permanece, que, ao se perder algumas coisas, ganham-se outras. Ganham-se jogo de cintura, experiência, tarimba, criatividade, colheita.

O envelhecer não nos permite negar a falta. O reconhecimento da carência permite assumir o desejo. Quando o outro deixa de ser apenas alguém para seduzir, deixando de ser um espelho e passando a ter uma existência real, aí se começa a viver o sentido da doação. Aí se abre uma possibilidade de plenitude nos relacionamentos, desconhecida até então. E isso não se dá nem aos 20, nem aos 30, nem aos 40 anos. Talvez aos 51, segundo os índios cherokees. 

(*) Psicóloga Clínica

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