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Ledo

Por muito tempo, Ledo acreditou em tudo que a ele chegava como informação oficial...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 26/04/2016 às 19:59Atualizado em 16/12/2022 às 19:09
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Por muito tempo, Ledo acreditou em tudo que a ele chegava como informação oficial. Toda notícia ou anúncio que não eram oficiais mereciam de Ledo o descrédito e a dúvida. Ora desacreditava, ora duvidava, dependendo do teor e da diferença com a oficial. Sabe-se que ele não se conformava em ser confrontado por distintas visões do mesmo fato. Para ser mais amplo, não suportava o embate que questionava o oficialismo que acostumou a nivelar e basear tudo durante anos e anos de cômodas informações. Tudo o que lhe diziam diferente do que oficialmente lhe era passado entendia como provocação. Ledo não admitia opinião contrária e atribuía a essa uma tentativa perniciosa de manipular com sofismas intencionalmente propostos para desvirtuar e confundir conceitos para ele absolutamente imutáveis. Sua intransigência foi-lhe afastando dia após dia de amigos discordantes de qualquer informação oficial. Foi ficando isolado e assim buscando sempre convivência com aqueles que também comungavam do pensamento oficial. Ledo e seus correligionários e amigos se bastavam e se compensavam numa espécie de confraria de proteção, ou seja, o que não era oficial estava fora do Mundo. Cercou-se de sólidos argumentos oriundos de material orientador com as diretrizes e fartos argumentos para todas as contestações e divergências do pensamento único. Era como um manual para todas as ocorrências, uma cartilha com simulações de todos os diálogos e possíveis argumentos de difícil contestação. Ledo se armou com tudo isso e se sentia inquestionável, retoricamente imbatível. Sua segurança o tornava o mais habilitado para a batalha campal do debate, discussões e até de discursos, se necessários fossem. Nada o convencia do contrário. Fora do oficial é manipulação, leviandade e deslealdade. Em certa ocasião, uma pergunta chegou a Ledo e o deixou um tanto desconcertado para quem era inabalável: “Com quantos paus se faz uma canoa?”. Com muita tanquilidade, respondeu: “Depende do tamanho da canoa, elementar”. E ouviu como contra resposta: “Não, Ledo, independe do tamanho da canoa, porque o que vai dar o tamanho dela é a árvore de cuja madeira for extraída para fazer a canoa. Portanto, não é com muitos paus, basta apenas um. E a canoa vai ser moldada com o que for encontrado para fazê-la”. Para essa pergunta, Ledo não havia encontrado resposta no manual e na cartilha. Respondeu com seu próprio raciocínio e serviu-lhe como lição, porque não tinha a resposta pronta. E a resposta pronta era o grande engano de Ledo.

(*) Engenheiro

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