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Impeachment e outros problemas

A palavra está dicionarizada e já precisou ser usada anteriormente no Brasil: impeachment...

Mário Salvador
Publicado em 26/04/2016 às 19:57Atualizado em 16/12/2022 às 19:05
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A palavra está dicionarizada e já precisou ser usada anteriormente no Brasil: impeachment. Mas por que essa, se podemos escolher, na “última flor do Lácio inculta e bela”, outra, para designar o processo instaurado por denúncia no Congresso a fim de apurar responsabilidade, por grave delito ou má conduta no exercício das funções, no caso, da Presidente da República?

É possível combater a corrupção sem maltratar a língua portuguesa. Basta o quanto ela já o foi na fala de deputados no último dia 17. Bastava-lhes dizer sim ou não, entretanto fizeram discursos inadequados e inúteis, alongando a votação que poderia ter durado uma hora – prato cheio para a imprensa internacional.

Copiar o que vem de fora parece regra. Foi assim com o Black Friday - liquidação criada pelos Estados Unidos, que acontece após o feriado de Ação de Graças, e imitada por muitos países. Aqui, certos estabelecimentos concedem desconto real no preço da mercadoria; outros aumentam o preço pouco antes da data e, no dia, oferecem desconto menor que o anunciado com espalhafato.

Também dentre as incontáveis incursões da língua inglesa, nomes de programas como Big Brother Brasil, The Voice, Masterchef talvez não fizessem sucesso de fossem Grande Irmão, A Voz, Mestre Cuca. E, em nosso país, sempre há palavras em inglês em palavras cruzadas, nomes de empresas, comidas, produtos, enfim, no dia a dia. E o domínio da língua inglesa, com propriedade, é total na tecnologia; muito justo.

O poder da cultura de um povo me lembra uma palestra de Frei Reginaldo (dominicano conhecedor do mundo) na Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Duas colocações me marcaram: O árabe não abandona seus costumes; todo ano, deixa a suntuosa residência e vive um tempo no deserto, em rica tenda - uma reverência às suas tradições. E embora um povo dominador subjugue o outro, na convivência diária o dominado impõe a língua ao dominador: o idioma do dominado vence.

Assim, depende apenas de nós, brasileiros, trocarmos impeachment por algo bem nosso e adequado. Talvez destituição, impedimento, descredenciamento. Mas assistindo àquela enorme movimentação na Câmara dos Deputados, pensei algo bem simbólic bota-fora. Opções não faltam. E qualquer língua vive em transformação constante. Mas nada disso importa. Opções que nos interessam agora são só aquelas tão radicais quanto eficazes para driblarmos a profunda crise brasileira. Vamos à luta.

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