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Viagem no tempo II

O fim de tarde vinha chegando. Refeitos da travessia do riacho, a viagem continuava...

Fernando Hueb de Menezes
Publicado em 21/04/2016 às 20:04Atualizado em 16/12/2022 às 19:13
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O fim de tarde vinha chegando. Refeitos da travessia do riacho, a viagem continuava, rumo à Canto do Buriti, no Piauí. Logo teríamos que parar para dormir. Mas onde? Naquele cenário ermo e deserto, não tinha como imaginar encontrar um hotel. A noite caía e os faróis da Belina lumiava dois palmos à frente daquela estrada sinistra. De repente, algumas luzes no meio do nada. Uma cidadezinha com um hotel modesto. E ali passamos a primeira noite, uns num quarto simples da hospedaria e outros preferiram dormir no próprio carro.

Após uma noite muito maldormida, antes que o sol desse o ar da graça, já estávamos a postos para prosseguir o caminho. Cafezinho preto para despertar e um pãozinho de ontem com manteiga de garrafa para forrar o estômago. A Belina empoeirada nos esperava. Lá estávamos nós, os sete, novamente como sardinhas enlatadas, para mais um dia longo de viagem. Outros riachos apareceram, cada travessia era um desafio. Pontes quebradas, atoleiros e barrancos não faltavam. Alguns cajueiros pelo caminho e, em determinado momento, pausa para descanso. Um dos meus irmãos não resistiu em degustar belos Cajus, diretamente do pé, saboreando a doçura da fruta. Mas não esperava o resultado da gula.

Pouco tempo depois de retomarmos o percurso, meu irmão começou a sentir aquela sensação de turbilhão na barriga. Não dava para esperar. “Pare o carro, pelo amor de Deus!!” Desceu correndo, buscando um cantinho no meio do mato para se aliviar. Aqueles Cajus, quentes como o clima do sertão, não teriam descido bem. Arriou as calças, num local “seguro”, e iniciou o processo. Mas, por intuição, resolveu olhar pra trás e, para sua surpresa, pela janela de um casebre, uma família inteira o observava, dando boas risadas daquela situação. Teve que encerrar o serviço no meio e, todo sem graça, voltou para o carro, onde também o esperávamos risonhos com o acontecimento.

Seguimos ao destino, que nunca chegava. Exaustos e imundos, não víamos a hora de encontrar novamente a civilização, quando surge à nossa frente uma estrada de asfalto. Parecia uma miragem. Estávamos próximos, e o carro agora deslizava sobre uma superfície que mais parecia um veludo. Logo à frente, Canto do Buriti. Realmente um cantinho abençoado. Uma praça com belas palmeiras enfeitava a porta da casa da tia Cota. Uma senhorinha de cabelos grisalhos, que, quando vi, imaginei meu pai de saia, do tanto que parecia. Uma casa simples, com vários quartos e quintal grande, nos acolhia. Fomos recebidos com tanto carinho, que valeram a pena todos os transtornos da viagem. Ali, passaríamos bons momentos e muitas surpresas nos esperavam. Algumas delas contarei a seguir... (Continuação...)

(*) Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba, chefe de Gabinete da Prefeitura de Uberaba

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