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Cadê o troco que estava aqui?

Frequentemente experimentamos a sensação que os franceses chamam de déjà vu...

Mário Salvador
Publicado em 19/04/2016 às 20:15Atualizado em 16/12/2022 às 19:15
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Frequentemente experimentamos a sensação que os franceses chamam de déjà vu: temos impressão de nos depararmos com uma situação já vivida.

Na década de 40, não havia supermercado, mas venda, cuja fachada exibia o letreir “secos e molhados” – um comércio de alimentos sólidos e líquidos. Vendia-se a granel; produtos não vinham embalados. Prazo de validade e marca de produtos não eram preocupações. Opções de compra eram tem ou não tem.

O vendeiro (dono da venda), atrás do balcão, atendendo um comprador por vez, com um copo de alumínio com alça, retirava arroz do saco de juta de 60 quilos, aberto sobre estrado no chão, e despejava a quantidade pedida pelo freguês num saco de papel kraft (semelhante ao de pão, apenas mais resistente – daí o nome kraft). Em sacos de variados tamanhos embalavam-se os diversos produtos secos: arroz, feijão, açúcar, farinha e até o café, que, vendido em grãos, era torrado e moído em casa. “Vai balinha?” – o vendeiro negociava o troco. Balinhas eram bem-vindas. Inclusive quando os fregueses lhe devolviam o saco de papel usado e dobrado para ser reaproveitado. Mais tarde, ditar lista de compras ao telefone a um funcionário da mercearia passou a ser possível. Um entregador levava os produtos à casa do comprador, que conferia os itens e pagava pela compra.

Hoje é uma comodidade escolher produtos já embalados, observando marca, preço, quantidade, qualidade. E diversos consumidores, ao mesmo tempo, enchem seus carrinhos de mercadorias previamente dispostas em gôndolas e outros expositores no comércio em geral. Transformações, inclusive riqueza de opções, tornaram prazeroso e fácil fazer compra conforme nosso perfil. E produtos se sofisticaram: aposentaram-se o torrador e moedor de café caseiros, pois o café já vem torrado e moído. E o instantâneo é querido por muitos. Já algumas cafeteiras elétricas exigem cápsulas específicas. E, para quem não quer preparar o próprio café, requintadas padarias têm cardápios de cafés e guloseimas para todos os paladares.

Mas a modernização não impediu a volta de um antigo problema: moedinhas sumiram do comércio, pois não são mais emitidas pela Casa da Moeda e milhões delas, em lares brasileiros, gritam por liberdade nos cofrinhos particulares de formatos variados. Embora estes tenham ajudado muitos gastadores a poupar, agora as moedas precisam circular no comércio e descomplicar o serviço dos caixas – que acabam solicitando ao cliente que ele facilite o troco com moedas.

Déjà vu: o mundo girou, o tempo passou, e o troco voltou a sumir do comércio. E, na falta de moedas, ou se faz o pagamento com cartão, ou o consumidor ou o comerciante engolirá, em vez das doces balinhas de antes, um amargo prejuízo.

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